Dois amigos, funcionários duma loja de eletrodomésticos,
filial de Fortaleza, bebiam e comiam no bar do Amauri, em final de expediente
de sábado. Não paravam de conversar. Lá pela estirada do diálogo, a voz de
Carvalhinho subiu de tom:
- Você deu, Marcão, pra achar que lá na firma estão todos
contra você.
- E estão mesmo, Carvalhinho. Seu Cardoso, porque é o gerente,
anda pegando no meu pé o tempo todo. Me reclama que eu não estou vendendo
quase nada. Trabalho feito condenado e só levo cacetada.
Carvalhinho deixou o colega Marcão se lamentar. Os dois
bebiam a sexta cerveja, tirando gosto com peixe assado.
- E estão mesmo todos contra minha pessoa. -
insistiu Marcão.
- Você acha, Marcão, de quem é a culpa mesmo?
- Ora, ora. Só pode ser de Seu Cardoso, Carvalhinho. Chega ao
ponto de estar pondo um vendedor pra me perseguir.
- Mas, Marcão, você não acha que o problema pode estar em você?
- Em mim mesmo, não, Carvalhinho. Por que só eu sou chamado à
atenção? Na verdade, Seu Cardoso é um imbecil. O pessoal de lá são bajuladores
dele. Fazem o que Seu Cardoso quer. Ele manda e, ainda, impõe.
- Pare um pouco, Marcão. Vou ser sincero. Você é um problemão
na firma.
Ao ouvir essa afirmação, Marcão desesperou-se: aplicou uma bofetada
no rosto do colega. Daí ocorreu o corpo a corpo na mesa do bar do Amauri. Ainda
bem que os fregueses decidiram ajudar Amauri a separar os briguentos. E
convenceram Marcão a ir embora do bar. Ao melhorar o clima, Amauri apresentou a
conta para Carvalhinho, cidadão educado com todos os presentes.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.