Zeca Romão bebia no bar de Fá, desde às nove da
manhã. E sozinho, na mesa escondida atrás do tapume de madeira. Já chegando às
duas da tarde, puxou assunto com Fá:
- Me lasquei, Fá. Me lasquei da cabeça aos
pés.
- E o que foi, Seu Zeca? Pela sua cara, desde que o
senhor entrou aqui, eu já notei. Foi problema no comércio? Na família? Foi em
que mesmo Seu Zeca?
- Foi com minha família, Fá. Sou um dono de casa
desmoralizado. Nem sei como olho pros meus. Me lasquei em banda. Um homem sem
moral.
- Mas, Seu Zeca, tudo tem jeito, tudo tem saída.
- Jeito? Saída, Fá? Estou em beco
sem saída. Lembra-se daquela mulher, a Sandra, que eu vivia com
ela?
- Sim, Seu Zeca. Eu nunca mais vi ela, nem mais com
o senhor.
- A rapariga, não tendo que fazer, foi bater lá em
casa.
- Vixe. E aí, Seu Zeca? Foi bem tomar satisfação com
alguém?
- Pior, Fá. Ela se embuchou e quer que eu leve pra
frente o bucho.
- O quê, Seu Zeca. Mais que coisa. Ela quis mesmo
aprontar com o senhor.
- Pois foi, Fá. A infame me traiu pelas costas. Eu
jurei pra ela que ia tomar conta dela e do menino. Pois bem, a bicha levantou
um fuzuê danado na calçada da minha casa. Minha mulher ficou coberta de
vergonha. E ainda a moléstia ameaçou minha mulher. de que tinham de sustentar
ela, o menino e de tudo. Como é que eu caí nesse atoleiro, Fá? Estão lá em
casa de cara virada pra mim, me tratando como cachorro doente.
Zeca Romão caiu no choro. Mesmo com os pedidos de
Fá para ele não ir naquela embriaguez, ele saiu a passos trôpegos, rua acima, enxugando,
com os dedos, as lágrimas.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.