Conversa em bar 3 (Dantas de Sousa) - crônica

 

Zeca Romão bebia no bar de Fá, desde às nove da manhã. E sozinho, na mesa escondida atrás do tapume de madeira. Já chegando às duas da tarde,  puxou assunto com Fá:

- Me lasquei, Fá. Me lasquei da cabeça aos pés.

- E o que foi, Seu Zeca? Pela sua cara, desde que o senhor entrou aqui, eu já notei. Foi problema no comércio? Na família? Foi em que mesmo Seu Zeca?

- Foi com minha família, Fá. Sou um dono de casa desmoralizado. Nem sei como olho pros meus. Me lasquei em banda. Um homem sem moral.

- Mas, Seu Zeca, tudo tem jeito, tudo tem saída.

- Jeito?  Saída, Fá? Estou em beco sem saída. Lembra-se daquela mulher, a Sandra, que eu vivia com ela?

- Sim, Seu Zeca. Eu nunca mais vi ela, nem mais com o senhor.

- A rapariga, não tendo que fazer, foi bater lá em casa.

- Vixe. E aí, Seu Zeca? Foi bem tomar satisfação com alguém?

- Pior, Fá. Ela se embuchou e quer que eu leve pra frente o bucho.

- O quê, Seu Zeca. Mais que coisa. Ela quis mesmo aprontar com o senhor. 

- Pois foi, Fá. A infame me traiu pelas costas. Eu jurei pra ela que ia tomar conta dela e do menino. Pois bem, a bicha levantou um fuzuê danado na calçada da minha casa. Minha mulher ficou coberta de vergonha. E ainda a moléstia ameaçou minha mulher. de que tinham de sustentar ela, o menino e de tudo. Como é que eu caí nesse atoleiro, Fá? Estão lá em casa de cara virada pra mim, me tratando como cachorro doente.

Zeca Romão caiu no choro. Mesmo com os pedidos de Fá para ele não ir naquela embriaguez, ele saiu a passos trôpegos, rua acima, enxugando, com os dedos, as lágrimas.

JN. Dantas de Sousa, Eurides.

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