Conversa em calçada 3 (Dantas de Sousa) - crônica

 

Santos Novais, vendedor de miudezas, recém-chegado do Recife, achava-se sentado na calçada de um hotel, em Juazeiro do Norte. Próximo a ele, Tõin, um dos lavadores de carro, estava sentado no meio-fio da calçada, a chupar o pirulito. 

- Ô Tõin, chamou-lhe o viajante, você pode ir comprar uma carteira de cigarros para mim?

- Vou, senhor, agora mesmo. Fico puraqui só pra servir os hóspedes.

- Pois compre, meu querido Tõin, uma carteira de cigarro Carlton.  Entendeu? Carlton. Leve essa nota e cuidado com o troco.

Segurando a cédula de dez reais (coisa que o lavador era difícil pegar), Tõin se mostrou sorridente. Explicou-lhe que qualquer mandado, ele estava fazendo era por obrigação sua pra qualquer hóspede do hotel. E saiu em direção da bodega de Seu Zuca. Mas antes de Tõin dobrar a esquina, o porteiro do hotel teve o palpite de chamá-lo. E, antes do lavador se achegar mais, o porteiro lhe perguntou sério:

- Ô Tõin qual  foi mesmo o nome do cigarro  que  Seu Santo Novais mandou você  comprar? Mostre a ele, Tõin, que você é inteligente. 

- Eu sei, eu sei, alegrou-se Tõin, sem alguns dentes de cima. - É dum cigarro que  tem  lá no cartaz da bodega de Seu Zuca.

- Então, como é o nome dele, Tõin? - perguntou-lhe Santos Novais.

- É, é… é o mesmo do cartaz.

- Eu sei, Tõin. Mas qual é o nome que está na carteira do cigarro?

- É, é... ah, agora me lembrei: Continental. 

- Não é esse cigarro não, Tõin.

- É sim senhor. Meu pai só fuma dele. Eu tenho as carteiras dele pra brincar.  

De súbito, Santos Novais arrancou o dinheiro da mão direita de Tõin. Com raiva, vociferou:

- Juazeiro do Norte tem cada doido.

JN. Dantas de Sousa, Eurides.

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