Zuza-sapateiro, ao se aproximar do compadre Procópio, sentado na cadeira
de balanço e sem camisa, na calçada de casa, retirou seu chapéu de massa, para
saudá-lo:
- Eita vida boa, a tua vida de aposentado, compadre. É igual a dinheiro
achado.
- É nada, compadre Zuza, rebateu Procópio. - Dinheiro achado vem o dono e
pega.
- Não é só assim não, meu compadre Procópio, adiantou-se Zuza-sapateiro.
- Você nunca foi homem de ter medo de ninguém. Pois é, compadre
Procópio, mas mudando de pau pra cacete, eu sempre, na minha vida, imaginei:
quem tem medo de cagar não come.
- Eu também sei disso desde menino, compadre Zuza. Mas, a cada dia, fico
avaliando: nesse mundo que nós vivemos está cheinho de muita perdição
ruim. Mas encompridando conversa, como foi que se acabou o fim do negócio do
teu rapaz?
- Filho e problema cada um tem o seu, compadre Procópio. O negócio está
brabo. A perdição disparada. Só se aprende mais coisa errada é da televisão.
Eita que escola do mal, compadre Procópio. E ninguém pode mais segurar os
estribos dela não.
- É, meu compadre Zuza, o mundo já foi lugar bom de se viver na paz de
Deus. Mas virou lugar de marreteiro, de gente cheinha de ruindade. Todo
mundo sem a educação do tempo dos nossos pais, dos nossos avós. E se Deus
não der freio no mundo, o mundo vai cair num abismo sem fim.
- Com essa, compadre Procópio, não tenho mais o que dizer. É a pura
verdade. Já vou, compadre Procópio, porque quem não vai pra frente
não chega adiante, até o dia que Deus quiser levar a gente pros sete-palmos.
- E os verme a engolir nós, compadre.
- Só deixando os cabelos, compadre.
Os dois riram, como duas crianças. E foi isso mesmo o que imaginei na
ocasião.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.