Conversa em calçada 4 (Dantas de Sousa) - crônica

 

Zuza-sapateiro, ao se aproximar do compadre Procópio, sentado na cadeira de balanço e sem camisa, na calçada de casa, retirou seu chapéu de massa, para saudá-lo:

- Eita vida boa, a tua vida de aposentado, compadre. É igual a dinheiro achado.

- É nada, compadre Zuza, rebateu Procópio. - Dinheiro achado vem o dono e pega. 

- Não é só assim não, meu compadre Procópio, adiantou-se Zuza-sapateiro. - Você nunca foi homem de ter medo de ninguém. Pois é, compadre Procópio, mas mudando de pau pra cacete, eu sempre, na minha vida, imaginei: quem tem medo de cagar não come.

- Eu também sei disso desde menino, compadre Zuza. Mas, a cada dia, fico avaliando: nesse mundo que nós vivemos está cheinho de muita perdição ruim. Mas encompridando conversa, como foi que se acabou o fim do negócio do teu rapaz?

- Filho e problema cada um tem o seu, compadre Procópio. O negócio está brabo. A perdição disparada. Só se aprende mais coisa errada é da televisão. Eita que escola do mal, compadre Procópio. E ninguém pode mais segurar os estribos dela não.

- É, meu compadre Zuza, o mundo já foi lugar bom de se viver na paz de Deus. Mas virou lugar de marreteiro, de gente cheinha de ruindade. Todo mundo sem a educação do tempo dos nossos pais, dos nossos avós. E se Deus não der freio no mundo, o mundo vai cair num abismo sem fim.

- Com essa, compadre Procópio, não tenho mais o que dizer. É a pura verdade. Já vou, compadre Procópio, porque quem não vai pra frente não chega adiante, até o dia que Deus quiser levar a gente pros sete-palmos.

- E os verme a engolir nós, compadre.

- Só deixando os cabelos, compadre.

Os dois riram, como duas crianças. E foi isso mesmo o que imaginei na ocasião.

JN. Dantas de Sousa, Eurides.

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