Conversa em casa (Dantas de Sousa) - crônica

O casal conversava em casa. De repente, a esposa explodiu:

- Não me irrite, seu cavalo.

- Lá vem você de novo com essa tua língua de víbora.

- Mas olha quem fala: um jumento, que não olha pra si mesmo.

- Pra cobra como você, tem que ser um assim mesmo.

- Você não passa de um porco, um imundo.

- É melhor ser do que ser como tu: uma jararaca.

- O quê? Diga de novo, bode nojento. Pra mim, você não passa de um verme.

- Ah é? Agora tu ficou uma arara? Ou você fica uma ovelha, ou dê o fora. Não aguento viver com onça não.

- Eu é que digo: prefiro viver com um macaco e não com tu, um gambá fedorento.

- Viver esse tempo todo com uma preguiça, é um castigo. Dorme mais que gato. E ainda é uma lesma.

- E por que não vai atrás daquela perua, daquela cachorra, que você vivia antes de mim. Aquela baleia, com aqueles pés de pata, a bunda de tanajura, dois peitões de vaca, o nariz de tucano e o pescoço de girafa. Uma coruja é mais bonita que ela. Kkkkkk!!!

- Arre égua.  Casar com você foi uma zebra na minha vida.

- Mas olha quem fala, logo um cachorro vira-lata. Um papagaio velho perde feio pra você.

- E tu, galinha atrevida.

- Uma galinha atrevida, logo eu. Você merece mermo é um par de chifres.

- Vá se lascar, sua vaca.

- Vá você, seu viado.

- Ah se você tivesse casado mesmo com um viado.

- Deus me livre. Vire essa sua boca pra lá.

- É por isso que você é minha pombinha.

E assim os dois caíram na risada. E terminaram na cama. Era um convívio de tapas e beijos, há trinta e oito anos.

JN. Dantas de Sousa, Eurides. 

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