A mulher que foi pedir ajuda espiritual à dona
Chiquinha-rezadeira terminou se desabafando do jeito que se planejou:
- Eu sei, dona Chiquinha, o velho gosta muito de
mim. Estou me esforçando pra gostar dele. Procuro entender ele. Mas acho que...
- E o que dessa vez, Damiana? Você ainda quer mais?
- Eu, dona Chiquinha, eu...
- Peraí, Damiana, dentro de mim diz: tudo com
paciência dá certo.
- Pode até, dona Chiquinha. Parece que ele faz o
que quero.
- Vixe, com desconfiança, Damiana? Não jogue fora
tua grande chance.
- Mas tem coisa, dona Chiquinha, que eu não gosto.
E é uma coisa ruim.
- Lá vem tu de
novo. Meus santos conseguiram te dar um bom partido. E você botando a perder.
Parece caboge em tu. Vou dar um jeito.
- Pode ser,
dona Chiquinha. Quando olho pro Onofre, dentro de mim dá um arrepio. E vejo uma coisa como o
claro do dia.
- Abra o jogo, Damiana? Me diga logo, pra eu ficar
por dentro.
- É um receio que não sai de mim. Só penso como vou
viver com um viúvo. A senhora sabe: viúvo foi homem de uma finada. A gente não
vê ela, mas só que ela, mesmo morta, fica no meio da gente, atrapalhando.
- Ah, agora me dei de conta, Damiana. Isso é o satanás te deixando biruta. Vou amarrar o infernizador e a defunta. Vá pra casa. Depois do serviço, a gente se acerta.
Damiana saiu da casa de dona Chiquinha ainda duvidosa, porém com a pontinha de certeza: ela não iria perder o seu aposentado rico. Tinha fé em dona Damiana. Tinha fé nela.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.