Encontrando-se adoentado, Seu Esperidião, depois de
muita insistência da esposa, resolve ir ao posto de saúde, na companhia da
filha mais velha. Ao se sentar diante do médico jovem, presta atenção à
pergunta:
- Seu Esperidião, o senhor tem alguma coisa?
- Seu doutor, pra falar de jeito, eu tenho, sim
sinhô. Eu tenho uma casinha, uma muié, já nos anos, e pra encurtar nossa
conversa, uma reca de filho e de neto.
O médico procura se consertar:
- Seu Esperidião, que é que traz o senhor aqui?
- Doutor, mas quem me trouxe até aqui foi minha
filha mais velha, a Concebida. Só que não deixaram a bichinha entrar.
Mesmo vendo que havia discordância de linguagem, o
médico novo, busca adiantar conversa:
- Seu Esperidião, me diga: o senhor comeu comida
carregada?
- Vige Maria, doutor. Deus me livre. O que a gente come
é tudo comprado. Nem fiado eu compro na bodega.
Sem saber continuar o diálogo, o jovem médico
ordena à assistente que faça entrar a filha do Esperidião.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.