No sítio do primo Né Coelho, Zé Guedes derramava
conversa para convencê-lo e a sua grande família a votarem no candidato a
prefeito, doutor Chico Tavares.
- Deixe eu falar, Coelhinho. Me escute, por favor. Só queria te dizer
que o meu candidato é doutor Chico Tavares, um homem pobre daqui.
- Quem já se viu doutor pobre, Zé Guedes.
Nesse meu setenta e oito anos, nunca vi até hoje.
- Pois, primo, me escute. Dia desse, eu
estava lá na casa do doutor Chico Tavares, a sua casa da cidade. E mesmo
me pediu dez reais pra comprar pão e leite pros da sua casa.
- E por que ele não vende aquela railux,
se está lascado, e se prestando a pedir esmola a você primo, um cabo
eleitoral dele?
- Primo Coelhinho,
a camioneta do doutor não é dele não. Você quer saber
o que o doutor me disse?
- Pois diga o que foi que ele inventou pra você,
primo.
- Primo, não duvide. Ele não tem mais
nada no nome dele.
- Nada? Isso é pra enrolar tolo. Brincando, primo.
Né Coelho nem aqui, nem na outra vida... No meu pão, primo, ninguém passa
manteiga não.
- Não sou de mentir não. Doutor Chico Tavares me falou
que tudo o que tinha passou pro nome da mulher e dos filhos. E foi antes dele ter se
elegido, na primeira vez, pra prefeito. Quis mostrar a seus eleitores que
ele não devia ter nada no nome dele. Anda pra cima e pra baixo
de mãos abanando. Está vendo como ele é? Não é
ganancioso nem corrupto. Hoje, só possui a roupa branca do corpo, a de
médico. E vive à custa da família. Juro por Deus e minha
família.
- Primo Zé, dessa vez eu vou aceitar. Nunca
esperava ouvir isso não. Agora sei quem é doutor Tavares de vera. Pois agora,
primo Zé, esse teu primo vai dar o voto a doutor Tavares. Pode até dizer
pro doutor que Né Coelho, a sua família e seu povo vão votar nele pra
prefeito e também nos vereadores do lado dele. Mas só peço uma coisa a
você primo: quero primeiro que ele venha fazer uma visitinha aqui, pra nós se acertar nos trinta.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.