Conversa em esquina 2 (Dantas de Sousa) - crônica

Araujinho conversava com Cardosinho na esquina, em frente a uma loja de eletrodomésticos, sobre a eleição nacional, faltando um mês para o dia da votação. No meio da conversa, Araujinho lhe declarou seu deputado federal, o médico Osvaldo Pacheco. Explicou-lhe que iria votar nele pela terceira vez. Não abria mão da sua escolha por nenhum outro. Mas Cardosinho esfriou o amigo: não apoiava, de jeito nenhum, o deputado federal de Antônio Araújo da Costa. Tinha nojo dele. Se pudesse, não queria nem o avistar.  

Ao ouvir Cardosinho insistindo que não daria seu voto a doutor Osvaldo Pacheco, Araujinho resolveu mostrar ao amigo quem era, na verdade, o seu candidato e de toda a sua família:

- Cardosinho, o doutor Osvaldo Pacheco é homem bom e popular. Você diz que não gosta da cara dele, né? É por que você nunca teve contato com ele.

- Deus me livre, Araujinho. Ele tem duas caras. Passa pela gente e nem fala. Por isso e outras coisas, não voto nele nem a pau.

- Num diga isso, Cardosinho. Você está enganado. Você precisa conhecer doutor Osvaldo. Ele é pessoa de bem. Em todo o lugar que a gente anda, o povo gosta dele. Ele não bate fofo. Num batizado, ele está lá, bate foto, come, bebe e abraça o povo. Num casamento, ele está lá, bate foto, come, bebe e abraça o povo. Num velório, ele tá lá, bate foto, bebe café e chá e abraça o povo. E assim de dia e noite, atende os pobres, passando consulta, dando amostra grátis de remédio e outras benfeitorias.

- Isso é enganação, Araujinho. Povo é só manobra pra ele ganhar mais voto.

- Você é demais, Cardosinho. Quando você não gosta de alguém, não tem quem faça você ir adiante. Mas, vamos fazer um negócio? Eu vou levar ele na sua casa.

Diante dessa proposta, Cardosinho pulou de banda. Abriu a boca e denunciou o que muitos da cidade já sabiam:

- Deus me livre, Araujinho. Seu tarado, na minha casa, não. Não quero ele nem pintado na porta.

- Tenha calma, Cardosinho?

- Antônio, se você for meu amigo, não queira me chamar depois de corno. Seu deputado muito popular é na sua casa. As portas da sua casa vivem escancaradas pra ele, né não?

Depois dessa pancada, o pau cantou. Encheu-se de gente na esquina. Polícia se encostou e levaram os dois para a delegacia.

JN. Dantas de Sousa, Eurides.

Texto literário de Dantas de Sousa - conto

Texto literário de Dantas de Sousa - crônica

Texto literário de Dantas de Sousa - poema

Literatura do Folclore: Conto

Literatura do Folclore: Ditado e Provérbio

Literatura do Folclore: Qual o cúmulo de...