Numa farmácia de Juazeiro do Norte, doutor Pedro
Chagas Ramalho, psicólogo, tendo retornado há seis meses do Recife para morar
com a família nesse município caririense, encontra-se com João Zacarias, amigo
de infância. Mesmo diante da satisfação de ter reencontrado o amigo de
infância, João Zacarias acabou se lastimando:
- Doutor Pedro, por favor, me ajude. Está um
problemão lá em casa: meu filho do meio se atolou no vício do
álcool. Não sei, nem também a minha mulher sabe como nós vamos tirar ele do
maldito vício. Ele não ouve nós nem também não quer se tratar. Ele já não
controla a bebida. Sai de noite e só chega no dia amanhecendo. Coitado do meu
filho, doutor Pedro. Já virou verdadeiro escravo do álcool.
Após ouvir paciente a lamúria de João Zacarias, o
psicólogo procurou acalmá-lo:
- Tenha calma, Zaca. O momento é de prudência. Em
primeiro lugar, não passem sermão nele nem partam pra briga com ele. Dependência,
em qualquer vício, traz problema E, como toda desarmonia, precisa-se de
tratamento.
- Parece, doutor Pedro que nossa família perdeu a fé
em Zacarias Filho abandonar a desgraçada. Quando a gente conversa com ele, ele
diz: “Eu não tenho problema com bebida não. Eu posso parar quando eu
quiser”.
- Isso, Zacarias, dizem os viciados coisas como
essa. Para ajudar a quem se envolve em vício, deve fazer o viciado
perceber os riscos e incentivá-lo a sair do vício. É um desafio. Mas se vai à
luta, Zacarias. Vamos à luta?
- Como vamos à luta, doutor Pedro? - perturbou-se
João Zacarias. - Mas só se o doutor querer ajudar nós.
- Tudo há jeito, amigo Zaca. Seu filho vai precisar
de atenção, de cuidado, de tratamento, de orientação. Vamos fazer uma coisa: eu
irei fazer uma visitazinha a vocês. Marque-me a hora por telefone, ou por
celular. De preferência quando seu filho estiver presente. Não antecipe pra ele
que eu irei à sua residência. E é muito bom o jovem está junto da família. Não
se esqueça: a solução para o problema não é simples, pode até ser lenta.
Depois da despedida, João Zacarias saiu da farmácia, dirigindo-se à sua casa, pensando como resolveria a situação. Ia pouco confiante, ia duvidoso.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.