Conversa em janela (Dantas de Sousa) - crônica

Diante da casa de Seu Cosmo, Ernesto Pereira  se lamentava da vida: “Não tem mais jeito não, Seu Cosmo. Lá em casa, virou uma bagunça. Só briga. São nós meus irmãos. E agora se meteram meus cunhado e minha cunhada. Estão querendo saber a herança de pai”. Debruçado na janela, Seu Cosmo ouvia paciente a lamúria do rapaz. Após o jovem se encostar à parede e se calar, ele se pronunciou:

- Você quer encontrar solução para esse seu caso, meu rapaz?

- Ora se não quero, Seu Cosmo. Mas já perdi a esperança.

- Meu rapaz, eu, nesta minha idade, já vi caso pior do que o seu.

- Pior que o meu, Seu Cosmo, não há. O senhor não está lá em casa.

- Meu rapaz, vou lhe ensinar. Se fizer, vai melhorar a sua família.

- E o que é, Seu Cosmo? Me diga logo.

- Você tem de dar o primeiro passo. Pois bem: recorra a Nossa Senhora, a Mãe de Jesus. Invoque-a com fé.

- Mas, Seu Cosmo... Reza, lá em casa, ninguém não gosta não.

- Mas não é você que está à procura de ajuda, meu rapaz?

- Estou. Mas estou só desabafando pro senhor.

- Meu rapaz, escute com atenção: a Virgem Maria consegue tudo o que Ela quer, tanto no céu como na terra. Ela não cessa de rogar ao seu filho Jesus para livrar os que suplicam a Ela os seus sofrimentos. A invocação do nome de Maria faz fugir todos os espíritos infernais.

- Peraí, Seu Cosmo. E como que vou acreditar nisso?...

- Recorrer a Mãe de Jesus, meu rapaz, é uma coisa bastante segura, pra quem quer vencer os assaltos do inferno. O poder de intercessão da Mãe de Jesus é imenso. Confie nela, confie nela.

- Mas será que ela resolve logo as coisas lá de casa?

- Paciência, meu rapaz. Muita paciência. Aprenda a rezar o terço. Fale para Ela todos os seus problemas. Aprenda pronunciar com muito amor o nome de Maria. Não se esqueça de frequentar a igreja. Eu vou lhe dizer mais: eu já vi pecador se converter e seus problemas se acabarem. Aprenda esperar, que se resolve. Não se desespere.

Em silêncio, Ernesto Pereira nem se despediu de Seu Cosmo. Pois a conversa havia se desestruturado. De-ses-tru-tu-ra-do.

JN. Dantas de Sousa, Eurides. 

Texto literário de Dantas de Sousa - conto

Texto literário de Dantas de Sousa - crônica

Texto literário de Dantas de Sousa - poema

Literatura do Folclore: Conto

Literatura do Folclore: Ditado e Provérbio

Literatura do Folclore: Qual o cúmulo de...