Conversa em lanchonete (Dantas de Sousa) - crônica

Encontrei o idoso, segurando o pedaço de galinha, à espera de beber a dose de conhaque São João da Barra. Viera acompanhado de Baixim, que lhe pagou duas doses do conhaque. Mas Baixim se foi, despedindo-se de mim e de minha mulher. Logo após, Dumont, o dono da lanchonete, apresentou-me o idoso, que se chamava Paraíba. No instante, eu me levei pela conversa de Paraíba. Ele se apresentou para nós como consertador e restaurador de janelas, portas e portões de ferro e metalona. Continuava ainda nesse ofício, que iniciara na adolescência, tendo aprendido com o pai falecido, mas já estava aposentado do INSS, recebendo salário-mínimo.

- Eu ainda sou pra o que der e vier, adiantou-se Paraíba. - Tenho meu carro de madeira, boto a máquina de soldar dentro dele e rodo o Juazeiro dum canto a outro. Mas o Baixim, esse que saiu há pouco, num gosta de trabalhar não. O negócio dele é viver na gozação. A aposentadoria dele é de um salário só. Mas só serve pra ele se divertir. Também, separado e solto no mundo.

Enquanto lanchávamos sanduíche com os dois sucos, Paraíba pediu a Dumont outra dose de São João da Barra. E me disse que era para ele beber com o resto da galinha. Só após bebê-la e parar de mastigar o aperitivo, voltou a falar de Baixim: “Aquilo é cabra sem-vergonho, mentiroso. Só não dei uma facada nele porque Dumont me aliviou minha cabeça”.

Num sábado, à tarde, ao se deparar com Paraíba na lanchonete de Dumont, Baixim convidou-o a comerem um peba com cachaça. Era o peba a carne que Paraíba apreciava. Por isso, imediatamente ele aceitou o convite. Na lanchonete de Dumont, antes de aparecer o tal tira-gosto, Paraíba pediu litro de Pitu. Na primeira dose, Baixim, antes de bebê-la, pediu ao dono da lanchonete uma banda de limão e salpicou um bocadinho de sal dentro do copo. E preparou a outra banda, do mesmo jeito, e deu a Paraíba. Na segunda dose, Baixim fez a mesma coisa. Na terceira dose, Baixim repetiu o mesmo ato. Foi aí que Paraíba perdeu a paciência e gritou para Baixim: “Como é, vai botar o peba na mesa, ou não vai? Você disse que Dumont está ajeitando o peba”.

Lá no caixa, Dumont caiu na gargalhada. Eu e minha esposa não entendemos Dumont agir daquela maneira. Mas Dumont nos revelou que Baixim já havia feito aquilo com dois amigos. E Paraíba havia sido o terceiro. E Dumont completou o final da história, ao nos revelar que, naquele dia da gozação, Paraíba mudou logo a cor do rosto: ficou vermelho que nem pimenta malagueta. E piorou a confusão dos dois quando o Baixim disse ao amigo: “Paraíba, meu amigão, pra que tira-gosto melhor do que esse peba, cana com limão e sal”. Não faltou nada para os dois se agarrarem. Só não aconteceu o pior porque Dumont mandou Paraíba, que mora em frente, fosse embora para casa, pra se aliviar. E que Baixim desaparecesse de uma vez por toda.

JN. Dantas de Sousa, Eurides. 

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