Conversa em oitão de casa (Dantas de Sousa) - crônica

 

No oitão da casa, por estar na sombra da tarde, depois de terem tomado dois xicrões de café, Seu Quinco se soltou:

- Eu gosto muito da minha mulherzinha, doutor Quezado. Só que a Raimunda não é muito de gostar de se assear.

- Que é isso, Seu Quinco. Dona Raimunda faz minha comida, e eu não vejo Dona Raimunda desse jeito que o senhor está vendo não.

- Mas o senhor, doutor Quezado, não vive enrolado com ela não. Pois eu vivo o tempo todo que Deus me deu e desde que nós dois ajuntamos nossos troços.

- É, é, está bem, Seu Quinco - amenizou as suas palavras o advogado Pedro Quezado. - Mas, por só isso, o senhor não deve dar cabimento aos outros para falarem de Dona Raimunda não.

Seu Quinco retirou de vez o boné da cabeça, colocando-o no joelho direito. A gente só via a sua calvície com duas colunetas de cabelos brancos dum lado e do outro quando o dono do oitão ficava nervoso. E, ali diante do doutor, ele falou sério que os olhos não piscaram:

- A boca do mundo não deixa de ser uma só, doutor, seja falando ou deixando de falar. Minhas coisas eu digo é na bucha e não me arrependo não: a Raimunda, doutor Quezado, ela é o que eu já disse pro senhor há pouco, sem tirar nem um fiapo de letra. Eu não sou homem de mentira não. E eu vou repetir: ela tem uma mania feia. Ela, pelo até o que sei, é acostumada. Eu só sei que, quando ela acaba de botar a mão na entreperna dela e depois se coçar, coçar, coçar, ela cheira a sua mão. Cheira, cheira, cheira... E não lava a mão não.

Depois dessa confissão de Seu Quinco, Pedro Quezado mudou a conversa, começando a se despedir do seu amigo.

JN. Dantas de Sousa, Eurides.

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