Quando me aproximei do motorista do ônibus, para
avisar a ele que eu desceria na próxima parada, desisti de lhe falar. Prestei
atenção a dois passageiros do banco da frente. Dizia um:
- Eu vou te dizer o que já disse pra tu outra vez.
Foi assim: eu ganhei grátis da minha namorada que estou namorando faz duas
semanas um relógio que marcava as horas tão bem como ninguém. Mas quando
eu entrava pra dentro do ônibus foi bem na hora que o motorista que dirigia o
ônibus deu uma ré pra trás, e eu nem vi que eu tinha acabado de perder de vista
o meu relógio que estava no meu braço de se botar relógio. E nenhum dos
passageiros dentro do ônibus de pé não viu meu relógio no meu braço dentro do ônibus.
O amigo dele soltou a gargalhada. Mas ele
desconfiou de algo:
- E por que tu riu uma risada toda cheia de
alegria, Serginho? Eu não sou cego de vista não. Eu vejo tudo com esses meus olhos.
Serginho lançou outra gargalhada. Ele reagiu:
- Tu, Serginho, tu tem mania de gostar de
gozar com a cara dos outros. Pois agora eu vou te dizer pra tu ouvir com esses
teus ouvidos: tu ainda vai acabar se dando mal de fazer dó. É só um aviso que estou
te dando pra tu ficar com as oiças de ouvir agoniada.
- Como é, cara.
- Eu vou te dar uma só e única palavra pra tu só
ouvir e ficar pensando com teus pensamentos: tu ainda vai encarar de frente um
ignorante bem mais bruto que um animal bruto. Aí tu vai apanhar uma pisa dele
bem boa de fazer dó. Quer apostar comigo uma aposta?
- Você está louco, Garcia.
Pena, meu leitor, que tive de descer no ponto. Mas
ainda ouvi a última frase de Garcia: “Serginho, quem quer ser sabido como um
sabichão metido a sabido como tu, não ri de dente pra fora da boca nem prum sem
saber ler, como os analfabetos cegos sem saber ler”.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.