Joaquina, toda chorosa, chamou Creuza
para dentro do seu próprio quarto de dormir, a fim de lhe confessar
algo triste:
- Não sei mais o que faço, Creuza. Descobri que meu
marido é viado.
- Como é, Joaquina. Paulo é homem sério. Não tem
pinta de viado não.
- Você que pensa Creuza. Quando comecei desconfiar
dele, pedi pra Maria Santa ir atrás dele, depois dele sair pra Praça Padre
Cícero.
- E aí, Joaquina? A tua empregada te disse alguma
coisa?
- Maria Santa andou que andou. Só me disse que não
viu nadinha demais.
- Pois taí, Joaquina. Já sei: quando tu bota algo
na cabeça, ninguém tira.
- Mas Paulo é mesmo, Creuza.
- Minha Nossa Senhora. Tu cria miolo de pote. Se
agarre na oração.
- Mas eu vou te contar. Creuza, que isso fique
entre nós. Mês passado, ao chegar do trabalho pra almoçar, peguei Paulo agarrado
a Maria Santa por trás, na pia da cozinha. A sem-vergonha estava gostando,
chega dava gargalhada.
- Viu aí, Joaquina, esses homens… E tu pensando que
ele era viado. Logo Paulo, um rabo de burro de primeira, amiga.
- Maria Creuza, deixe eu te contar. Na hora que eu
peguei a sem-vergonhice dos dois... Maria Santa pulou de lado e deu uma alta
gargalhada. E sabe que foi que a bicha me disse, com cara de rapariga: “Não é
isso que a senhora está vendo não, Dona Joaquina. Seu Paulo queria enrolar a
senhora. Seu Paulo gosta mesmo é de ficar como eu na pia, levando
chibata. Né não, Seu Paulo?”.
- Minha Nossa Senhora. Paulo viado. Mundo está
perdido. Não dá pra gente acreditar mais em nada.
- Pelo amor de Deus, amiga. Não fale nada. Que vão
dizer de mim? Que eu me casei com um desviado da mente. Só penso nos meus dois
filhos...
Joaquina se estendeu na cama, inconformada, a
chorar copiosamente, com o seu travesseiro no rosto. E Creuza, sentada na
cadeira de balanço do quarto, de cabeça baixa, rezava, em voz baixa, o terço.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.