Aníbal Batista quem recomeçou a
conversa. Pouco minuto atrás, havia seu vizinho, Joaquim Leal, acabado de
contar um fato, em que o personagem principal ele o chamou de um rapaz pobre de
espírito. Houve uma pausa de silêncio. Foi aí que Aníbal iniciou a sua
história.
Ele aguardava sua mulher sair do
frigorífico. De dentro do carro, espiava Aníbal o rapaz. Já ia ele se tornando mendigo,
sujo e barbudo, e tez de alcóolatra. Preparava o cigarro de maconha do outro
lado da rua, à beira da linha do metroviário Juazeiro - Crato.
Atrás do rapaz, na amurada dos
trilhos, havia o cartaz de um grupo de oração da Igreja Católica. Nele se via o
rosto de Jesus e, acima, a oração “SEDE SANTOS”.
O rapaz acabou de ajeitar o
cigarro, acendeu-o. Notando que eu o olhava, ele se usou de pantomima. Nas três
vezes em que puxou o trago com força, ele pôs o cigarro na boca de Jesus. Não
contente, jogou fumaça, de dentro de si, em Jesus.
A mulher de Aníbal entrou no
carro. Enquanto ele manobrava o carro para seguir caminho, o pobre rapaz gritou
rouco para Aníbal:
-Tu e ele são dois otários. Vão
se lascar.
- Que cabra pobre de espírito,
Joaquim Leal protestou. - Tem mais, um desaforado, tipo desses de hoje.
E Aníbal completou:
- Isso era bem um filho do
papai, de uma autoridade, ou de um doutor.
Resolveu, então, Aníbal chamar seu vizinho para tomarem o cafezinho dentro de casa.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.