Conversa em salão de cabeleireiro (Dantas de Sousa) - crônica

Enquanto  João-cabeleireiro esticava o cabelo da moçoila, a adolescente na espera, sentada por trás dos dois, narrava-lhes a sua enciumada com o seu caso atual. Ao terminar o fato, não tendo o que conversar, disparou:

- Com esse cabelo, Bete, você está parecendo uma galinha despenteada.

Sem poder se virar, Bete contra-atacou:

- Vá se lascar, rapariga. Galinha é tu. Não tire sarro de mim não. Comece, que eu descubro tudo seu. Você sabe: quando atiro minha seta, acerto bem na testa de rapariga desmiolada.

- Pois atire em mim, sapatão. O que tem de gente sabendo que tu faz sabão.

- E tu, rapariga, que vive chupando picolé de carne.

A discussão  parou  com  as  pancadas fortes da escova no armário onde João-cabeleireiro coloca ferramentas de trabalho. Aquilo deixou as duas adolescentes de olhos arregalados para o cabeleireiro. E o cabeleireiro esbravejou:

- Enrolem suas línguas, suas duas neuras. Parem dessa galinhada no meu salão. Agora, suas loucas, me escutem: aqui, no meu salão, anda muita cliente fina. Pois fiquem sabendo a partir de agora: pé-rapadas aqui, eu não faço conta. 

Foi como João-cabeleireiro tivesse botado cola superbom na boca das duas desbocadas. Aliás, já estava guardado na garganta dele esse desabafo. 

JN. Dantas de Sousa, Eurides.

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