Depois de beberem meio copo de café, Seu Pangaré
abriu assunto para doutor José Siqueira, seu advogado:
- Eu era, doutor, um comedorzinho danado. Mas, um
dia, não sei como, peguei um enfraquecido, que o vento era quem me levava. Aí
eu tive de procurar o médico, no posto perto daqui de casa.
- E que foi que o médico passou Seu Pangaré?
- O abestado mandou eu aferventar um ovo, fazer um
furinho nele e, depois, eu beber um ovo durante quinze dias.
- E o senhor fez o que ele mandou?
- Eu debati mais o doutor no consultório dele.
Doutor, um ovo só não presta pra nada. E ele veio me dizer que um ovo era igual
a um quilo de carne. Espie só, não é um sem-juízo pra comparar quilo de carne
com um ovo. Ainda fiz uns três dias a besteira do doutor. Mas minha filha
professora ouviu falar lá no meio dela que ovo entope as veias do coração. E me
pediu preu parar de vez.
- Aí, Seu Pangaré, o senhor parou.
- Eu mesmo não. Sem o povo daqui de casa saber, eu
fui na barraca duma amiga minha lá no Mercado Central. Pedi pra ela ferver
vinte e quatro ovos. E eu comi duas dúzias de ovo duma vez, nos quinze dias que
o doutor determinou.
- Tudo isso, Seu Pangaré. Duas dúzias de ovos de
uma vez é coisa afoita. O senhor não sentiu sua barriga doer devido a tantos
ovos?
- Pra falar a verdade, doutor Siqueira, eu senti
umas pontadinhas aqui do lado direito de minha barriga, um reboliçozinho por
dento do meu estômago. Mas foi logo embora com tanto peido que eu dei, fedorento
como carniça. Minha mulher quase chegou a desmaiar de tanto fedor.
JN. Dantas de Sousa, Eurides.