Da educação para todos para o educacional antidemocrata (Dantas de Sousa) - ideia


Ele entrou na escola porque achou a porta aberta. Já dentro, ninguém lhe pediu alguma identificação. Na sala de aula, o professor explicava o assunto, e os alunos estavam silenciosos. Logo, ele solicitou ao professor que fosse interrompida a explicação, uma vez que ele não estava entendendo nada. De repente, houve mal-estar dentro da sala de aula. O professor procurou acalmá-lo e aos demais alunos. Explicou-lhe pacientemente que a aula estava para terminar. Mas ele insistiu e adiantou-se a reclamar seu direito de saber, já que era um cidadão. O professor lhe revidou, então, o seu direito de não lhe explicar naquele momento e que poderia tirar-lhe as dúvidas após o término da aula, enquanto os alunos estivessem a lanchar.

O aluno enraiveceu-se. Mostrava-se apressado e disposto a ouvir a explicação do assunto, pelo direito que lhe cabia. Revoltou-se, ainda, por meio de frases grosseiras, dirigidas ao professor. Entre outras, reivindicou ao mestre que ele era estudante com direito, segundo as leis, a ser atendido em sua devida reclamação. E o que mais impressionou a sala de aula foi o fato da divisão entre os alunos. Uns contra o tal estudante, enquanto a minoria barulhenta a favor dele.

Chamaram o coordenador do colégio. Esse, prontamente, ficou ao lado daquele inusitado jovem, vestido com a blusa do colégio. E o tal estudante apresentou seu discurso sobre democracia na educação e em defesa da filosofia denominada de educação para todos. Ao final, havia um público a preferir a educação democrática, em que todos deveriam frequentar escolas, todos deveriam aprender, todos deveriam "passar" mesmo que chegasse à ultima hora. Culparam o professor porque ele não se apressava para pôr o aluno a par dos conhecimentos a que o colega deveria ter o direito. Até o coordenador pedagógico se espalhou em saber: era como se o professor concebesse àquele aluno que o leite deverá sair da vaca para uma cooperativa estatal e chegasse ao supermercado, com preço unificado e que fosse repassado para clientes. Era como se o professor mostrasse as particularidades bancárias, que não pudessem apresentar nenhuma razão de estar em mãos privadas, para que o cidadão não pudesse olhar de olhos perplexos de quem vê alguém propondo algo muito perigoso.

Diante dessas considerações educativas tidas como democráticas, mesmo se valendo de meras abstrações filosóficas, necessitamos, portanto, de não nos esquecermos de que a água é direito e serventia de todos. Então, partindo-nos dessa premissa árida, própria de uma filosofia de educação intempestiva e desarticulada da realidade, o tal professor teve de se transformar instantaneamente, para não cair em desuso seu saber pedagógico.  Enfim, ao passar de série ao final de ano, aquele aluno transformou a educação nacional na transformadora e libertadora educação "democrático-popular". Revolucionara a educação, e decretar-se-ia, assim, uma educação para todos, através de leis aprovadas por governo progressista num modelo educacional, mesmo que sendo reconhecido como antidemocrata. Conclui-se que, desses tipos de progressistas e revolucionários, despontam, no Brasil e em vários países, imprevisíveis e imprudentes educadores e também libertários educandos.      


JN, Dantas de Sousa, Eurides     

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