Ele entrou na
escola porque achou a porta aberta. Já dentro, ninguém lhe pediu alguma
identificação. Na sala de aula, o professor explicava o assunto, e os alunos
estavam silenciosos. Logo, ele solicitou ao professor que fosse interrompida a explicação,
uma vez que ele não estava entendendo nada.
De repente, houve mal-estar dentro da sala de aula. O professor procurou
acalmá-lo e aos demais alunos. Explicou-lhe pacientemente que a aula estava para terminar. Mas ele insistiu e adiantou-se a reclamar seu direito de saber, já que era um cidadão. O professor lhe revidou, então, o seu direito de não lhe explicar naquele momento e que poderia tirar-lhe as dúvidas após o término da
aula, enquanto os alunos estivessem a lanchar.
O aluno enraiveceu-se. Mostrava-se apressado e disposto a ouvir a explicação do assunto, pelo direito que lhe cabia. Revoltou-se, ainda, por meio de frases
grosseiras, dirigidas ao professor. Entre outras, reivindicou ao mestre que
ele era estudante com direito, segundo as leis, a ser atendido em sua devida reclamação. E
o que mais impressionou a sala de aula foi o fato da divisão
entre os alunos. Uns contra o tal estudante, enquanto a minoria
barulhenta a favor dele.
Chamaram o coordenador do colégio. Esse, prontamente, ficou ao lado daquele inusitado jovem, vestido com a blusa do colégio. E o tal estudante apresentou seu discurso sobre democracia na educação e em defesa da filosofia denominada de educação para todos.
Ao final, havia um público a preferir a educação democrática, em que todos deveriam frequentar escolas, todos deveriam aprender, todos deveriam "passar" mesmo que chegasse à ultima hora. Culparam
o professor porque ele não se apressava para pôr o aluno a par dos
conhecimentos a que o colega deveria ter o direito. Até o coordenador pedagógico se espalhou em saber: era como se o professor concebesse àquele
aluno que o leite deverá sair da vaca para uma cooperativa estatal e chegasse ao supermercado, com preço unificado e que fosse repassado para clientes. Era como se o
professor mostrasse as particularidades bancárias, que não pudessem apresentar
nenhuma razão de estar em mãos privadas, para que o cidadão não pudesse olhar
de olhos perplexos de quem vê alguém propondo algo muito perigoso.
Diante dessas
considerações educativas tidas como democráticas, mesmo se valendo de meras abstrações filosóficas, necessitamos,
portanto, de não nos esquecermos de que a água é direito e serventia de todos.
Então, partindo-nos dessa premissa árida, própria de uma filosofia de educação
intempestiva e desarticulada da realidade, o tal professor teve de se transformar
instantaneamente, para não cair em desuso seu saber pedagógico. Enfim, ao passar de série ao final de ano, aquele aluno transformou a
educação nacional na transformadora e libertadora educação "democrático-popular". Revolucionara a educação, e decretar-se-ia, assim, uma educação para todos, através de leis aprovadas por governo progressista num modelo educacional, mesmo que sendo reconhecido como antidemocrata. Conclui-se que, desses tipos de progressistas e
revolucionários, despontam, no Brasil e em vários países, imprevisíveis e imprudentes educadores e também libertários educandos.
JN, Dantas de Sousa, Eurides