É ou não é? Era a expressão habitual que amigo meu
usava ao terminar de falar sobre qualquer coisa. Assim como muitos exageram:
aí, não é, né. E logo que me encontrei com meu amigo no quarto do hospital, ele
passou a dizer, segurando minha mão, a sua expressão.
- Meu amigo Antero, você veio me visitar. Pensa
que vou morrer, é ou não é? Mas isso é brincadeira minha. Você sabe que sou seu
amigo, é ou não é? Vou lhe contar uma coisa e espero que você queira ouvir.
Pois antes deu vir pra cá, fiz uma pesquisa, mesmo não sendo sábio em pesquisa,
é ou não é? Só que eu presto atenção a tudo, é ou não é? E você sabe disso
porque me conhece, é ou não é?
Sem perder tempo, meu amigo me expôs sua pesquisa.
Segundo ele, violência foi a palavra que conseguiu primeiro lugar no “ranking”
mundial da linguagem humana. Bateu até a palavra Deus, e de lapada.
- Ela conquista os corações dos homens, é ou não é?
Os meios de comunicação do mundo todo enfeitam ela, é ou não é?
A seguir, pediu-me para eu anotar as dez palavras
mais usadas pela humanidade, no primeiro ano do século XXI. Devido à sua
insistência, anotei-as. Achava eu aquilo tolice do meu amigo. Mas, depois de me
cansar de tanto ouvir meu amigo a falar, terminando com seus “é ou não é”,
resolvi me despedir dele, para que ele pudesse descansar.
Só que ele continuou: “Por que a humanidade vai se
interessar com pesquisa minha, é ou não é? Os homens e as mulheres não querem
ser perturbados com conversa fiada de um coitado como eu, é ou não é? E que só
possui ensino médio, é ou não é? Tem mais, poucos sabem por que a violência
está batendo o recorde na humanidade, é ou não é?”.
Mas o que vou lhe dizer agora, caro leitor, poderá não lhe interessar, já que não conheceu meu amigo. Não podia, porém, eu acabar de escrever esta crônica sem falar, pelo menos, duas coisas sobre ele. O apelido que botaram em meu amigo, desde adolescência, não o deixou insatisfeito. Segundo, depois de sua morte, antes de receber alta do hospital, a esposa dele permitiu que divulgássemos, no rádio e no cartão de despedida, seu nome e apelido. Que Deus tenha É ou não é em um bom lugar, é ou não é?
JN. Dantas de Sousa, Eurides.