A aguya e o caguado
Comta-sse
que húa vez que húa aguya leuaua hún caguado, com os pees no haar e nom ssabia
como o comesse. E, assy estamdo, saltou peramte ella húa gralha e disse aa dita
aguia:
-
Queres que te dê hún conselho? Aleuanta-te bem em cima no haar e abre as
hunhas e leixa cayr esse caguado, e cairá em terra; e quebramtar-sse-ha, e
emtom o poderás comer, ca he muy ssaboroso de comer.
E
a aguia feze-o assy. E pella limguoa da gralha morreo ho caguado.
Em aquesta hestoria o doutor ameestra os homées que deuem temperar ssuas
linguoas e nom as deuem teer ssem freo, pollas quaees pode proceder dapno e
escamdalo a sseu próximo, porque da linguo que nem he temperada sse sseguem
arroydos e mortes de homées e outros jimfijmdos males. E húu proberbio: diz:
A
limguoa nom ha osso / Mais rrompe o dosso.
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Poema
Língua
Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És a um tempo, esplendor e sepultura
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que de voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo
Bilac
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A Língua
Portuguesa é falada pelos cinco continentes, sendo a língua oficial dos
países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal,
São Tomé e Príncipe, Timor Leste. É a sexta língua mais falada no mundo e
vem após o chinês, o inglês, o espanhol, o híndi (Índia) e o árabe. Após o
inglês e o espanhol é a língua mais falada no Ocidente.
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A Língua
Portuguesa provém do latim que se entronca, por sua vez,
na grande família das línguas indo-europeias, representada hoje em
todos os continentes.
Línguas indo-europeias: grande família
As línguas indo-europeias dividiam-se em dois
ramos principais:
SATEM (ou grupo
oriental)
a) balto-eslavo:
b) eslavo: eslavo oriental (russo, ucraniano, bielo-russo), eslavo ocidental (polábio,
polonês, eslovaco, tcheco, sorábio), eslavo do sul (eslavônico, servo-croata,
búlgaro, macedônico), báltico-lituano, letão, semigálio, curônio, prussiano;
c) ilírico: albanês;
d) tocarino;
e) anatólico: hitita, luvita, hieróglifo,
líbio, palatita;
f) indo-iraniano: iraniano: persa, pusthu,
curdo, urdo
g) indo-iraniano: sânscrito, hindi, bengali;
h) armênio.
CENTUM (ou ramo ocidental)
a) céltico: britânico (galês, bretão,
córnico), gaélico (gaélico irlandês, gaélico escocês, manx);
b) germânico: germânico do norte (sueco,
norueguês, islandês, dinamarquês), germânico ocidental (alto germânico ou
alemão literário), germânico oriental (gótico, vândalo,
burgúndio), baixo germânico (flamengo, holandês, trisão, franco, saxão,
inglês, alemão popular);
c) helênico: jônio, atiço, dórico, eólio,
aqueu, micênio, grego moderno;
d) itálico: latim (catalão, galego, sardo,
provençal, romeno, espanhol, francês, italiano, rético, dálmata, osco,
umbro, português).
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Latim e a sua origem
O Latim é uma língua
da família denominada indo-europeia, do
grupo itálico. Tornou-se, por motivos históricos, a mais importante
dessa família. Não era senão um dos vários dialetos da Península Itálica.
A princípio, um simples
falar de um povo de cultura rústica, vivendo no centro da Península Itálica,
o Lácio, foi-se o Latim estendendo com o poder romano. Era a
língua falada em Roma. Com as guerras e as conquistas romanas,
esse idioma expandiu-se por toda a Europa. Os romanos impuseram
sua língua, sua cultura e seus costumes aos povos conquistados. Para garantir a
dominação política, os romanos exigiam que, em todo o vasto Império, o latim
fosse de uso obrigatório nas escolas, nas transações comerciais, nos
documentos, nos atos oficiais e no serviço militar. Só o Grego lhe
resistiu, na Grécia e no Oriente Próximo. E o latim chegou a incorporar
uma grande quantidade de palavras gregas.
Como qualquer língua viva,
durante oito ou nove séculos, a língua dos Romanos
foi modificando-se pouco a pouco, sobretudo em contato com as
diferentes línguas já existentes nas várias províncias de Roma. Antes da
decadência do Império Romano, já se notava claramente uma divisão, a
saber: Latim clássico (gramaticalizado, literário, usado pelos
poetas, prosadores e pessoas cultas, nas formas oral e
escrita) e o Latim vulgar (usado pelo povo, e
apenas falado). A língua falada nas regiões romanizadas, portanto, era
o latim vulgar.
Mais tarde, com a decadência
do Império Romano, as várias regiões ficaram praticamente entregues a si
próprias, e, por isso, isoladas. Acentuaram-se nelas as diferenças
linguísticas, quebrando-se, assim, a uniformidade linguística. Os
habitantes dessas regiões deixaram de usar o mesmo código e, por sua vez, de se
compreender. Diante disso, ocasionou-se o aparecimento de línguas diferentes,
embora aparentadas, as quais se passaram a chamar-se de romanços ou romances (falares
à maneira dos romanos). Mais tarde, de línguas neolatinas.
Assim, do latim nasceram as línguas românicas.
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ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
A língua portuguesa, uma das
chamadas românicas, isto é, das que trazem a sua origem
do latim, e pode considerar-se na sua essência como evolução deste,
desenvolveu-se na costa oeste da Península Ibérica, mais precisamente
na província romana da Lusitânia.
Vale salientar que essa península,
por sua localização privilegiada e por suas riquezas, sempre foi uma região
muito disputada por diferentes povos, como celtas, germânicos,
púnicos-fenícios, gregos, lígures, árabes; os quais deixaram marcas culturais e
linguísticas. A invasão muçulmana e, mais tarde, a Reconquista, pelos
cruzados, tornaram-se acontecimentos determinantes para a formação de três
línguas peninsulares: catalão (a leste), castelhano (no
centro), galego-português (a oeste).
Galego-português
No período que vai do século IX ao XII (surgimento dos
primeiros documentos latino-portugueses), considerado uma época de
transição, alguns termos portugueses apareceram nos textos escritos em latim
bárbaro. Ao léxico latino, que sofreu numerosas alterações fonéticas, são
acrescentadas palavras provenientes de diversas línguas. Num primeiro momento,
o galego-português é apenas a língua da lírica trovadoresca.
A partir do início do século
XIII, é nessa “língua vulgar” que surgem documentos, tais como testamentos,
títulos de vendas etc. O galego-português consolida-se como língua
falada e escrita da Lusitânia.
Fragmento de texto em
galego-português
“…
Aquel que casa fezer ou uinha ou sa herdade onrrar e per 1 ano en ella seuer,
de depoys en outra terra morar quiser, seruia a el toda sa herdade u quer que
morar. E, se as quiser uender, uenda a quem quiser per foro de uossa cidade.
…Homèes da Guarda, nõ por meyrìho, nè seyã pennorados senõ por seu uizio.
Cavaleyros da Guarda nè molheres uiuuas nõ dè pousada per foro da Guarda seno
per mãdado do uiiz. Omèes de uossos termyos que severè em nossas herdades ou em
nossos solares e seus senhores non forè y, uenã ao synal do iuiz e dè fiadores
que respõdã o dereyto, quanto ueerè seus senhores. E a VII ao paaço, e nõ
seruiã outro homè seno a seus senhores em cuios solares seuerè. Senharas e
uìhas delrey aja tal foro qual as searas e as uinhas nossas ouuerè. E que seu
iizio matar e en sa casa fogir, què depoys a el entrar e o y matar peyte CCC
soldos. …Omè da Guarda que molher ouuera bèeçõ, se el ha leyxar, peyte I
dinheiro ao iuiz. Se a molher leyxar seu marido que ouuer a bèeções, peyte CCC
soldos e a meydade seya de su marido. (…) Outras entenções iuygè segùndo seu
sen, assi como melhor poderè.
(Códice Foraes
antigos da Guarda he leis antigas do Reino)
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PORTUGUÊS
À medida
que os cristãos avançaram para o sul, os dialetos do Norte
interagiram com os dialetos moçárabes do Sul, começando o processo de
diferenciação do português em relação ao galego-português. E essa separação
entre o galego e o português ocorreu sobretudo com
a independência de Portugal (século XII), e se consolidando com a expulsão
dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram
anexar o país.
Depois da independência
política, iniciou-se um processo de autonomização linguística no
Condado Portucalense. Dom Dinis ordenou que, daí em diante, todos os
livros e documentos passassem a ser escritos em português. Esse rei-trovador,
ao promover o desenvolvimento cultural do país (fundou, por exemplo, a
Universidade de Coimbra), ordenou, portanto, que fosse usada a língua
portuguesa nos documentos públicos, além de que se traduzisse a Bíblia.
Na metade do século XIV,
o português tornou-se a língua de Lisboa. Também o eixo Lisboa-Coimbra
transformou-se em centro de domínio da língua portuguesa. É aí que
o português moderno vai constituir-se. Surge a prosa literária em português,
com a Crônica Geral de Espanha e o Livro de Linhagens, de dom
Pedro, conde de Barcelona.
Fragmento de texto da língua portuguesa no século XIV
“Despois
que esta rainha veo a Portugal, recreceo discordia entre elrey D. Dinis e o
infante D. Affonso, seu irmão; e esta rainha, vendo esta discordia e este mal
entre elles, e cercando el rey alguns logares, que o infante tinha, e
filhando-os, para non recrecer discordia maior e dano em a terra, tratou esta
rainha per si e por seu conselho e por prelado e outros homens bons aueença
entre elrey e o infante, seu irmão, e, para se fazer paz e concordia, entregou
a elrey a villa de Sintra, que ella tinha de Sá mão delrey, e deu a elrey
outros logares ao infante para se manter com elles. E fez que o infante ficasse
por vassalo delrey e para se seer a seu seruiço em todo o tempo, quando a elrey
comprisse Sá ajuda e seu seruiço…”.
(Da Relaçam da vida gloriosa Santa Isabel,
Rainha de Portugal…)
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A Língua Portuguesa moderna
Iniciou-se no século
XVI quando a língua se uniformizou e adquiriu características do
português atual. Nesse processo de uniformização, a literatura
renascentista portuguesa, sobretudo a produzida por Camões, desempenhou um
papel essencial.
As primeiras
gramáticas (como a Grammatica da lingoagem portuguesa, de padre Fernão de
Oliveira, publicada em 1536) e os primeiros dicionários dataram desse
século.
A partir da época das descobertas,
ou a construção do império português de ultramar, a língua portuguesa
fez-se presente em várias regiões da África, América e Ásia. Recebeu
também marcas dessas regiões, ou seja, os vocábulos portugueses aumentaram.
Além do mais, com o Renascimento, aumentou-se o número de italianismos e
palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e
maleável. Dessa maneira, proliferou-se na Língua Portuguesa a adoção de
vocábulos de outras línguas adaptados à fonética da língua portuguesa, ou os
estrangeirismos; além da criação de novos vocábulos necessários para
designar as novas realidades, ou os neologismos.
Ainda no século XVI, com o
Renascimento, o latim passou a ser prestigiado. Restauraram-se formas latinas
antes modificadas (paterno/pai, plaga/praia, pluvial/chuva…); e formas nominais
sintéticas (maior, menor, superior, inferior, fidelíssimo, paupérrimo…).
Fragmento de texto da língua portuguesa no século XVI
“Eu
El Rey faço saber a quantos este Alvará virem que ey por bem, e me praz dar
licença a Luís de Camões para que possa impremir nesta ciodade de Lisboa hùa
obra em outava rima chamada os Lusíadas, que contem dez cantos perfeitos, na
qual por ordem poética, em versos se declarão os principais (feitos
dos Portuguezes nas partes da Índia depois que se descobrio a navegação para
ellas por mandado d’El Rey D. Manuel, meu visavo (que santa gloria aja). E isto
com prevelegio, pêra que em tempo de dez annos que se começarão do dia que se a
dita obra acabar de emprimir em diante, se não possa emprimir nem vender em
meus reinos e senhorios nem trazer a elles de fora, nem levar das ditas partes
da Índia para se vender sem licença do dito Luis de Camões, ou da pessoa que
pêra isso seu poder tiver, sob pena de, quem o contrário fizer, pagar cincoenta
cruzados e perder os volumes que impremir ou vender, a metade para o dito Luis
de Camões, e a outra metade para quem os acusar…”
(Fragmento do alvará que
trazia o privilégio para a impressão dos Lusíadas, de 1571)
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A partir do século XVI, substituíram-se:
Formas populares:
fremoso / formoso, onzeno
/ décimo primeiro)
Surgiram palavras novas:
da Itália (piloto,
galera, fragata...)
da África (girafa, banana,
batuque...)
da Turquia (quiosque,
harém...)
da Malaca (bule, pires,
bambu...)
da China (chá, chávena...)
do Japão (leque...)
da Índia (pagode...)
Tornaram-se evidentes as contribuições
ao léxico português:
de línguas africanas,
asiáticas e do inglês
Estudiosos portugueses foram buscar seus
conhecimentos na cultura francesa, introduzindo galicismos ao léxico português:
chefe, boné, blusa, rouge…
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Nos séculos XIX e XX o vocabulário
português recebeu novas contribuições
Surgiram termos de
origem greco-latina para designar os avanços tecnológicos da época
(como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês
em ramos como as ciências médicas e a informática
(check-up e software).
O volume de novos termos,
por sua vez, estimulou a criação de uma comissão composta por representantes
dos países de língua portuguesa, em 1990, para uniformizar o vocabulário
técnico e evitar o agravamento do fenômeno de introdução de termos
diferentes para os mesmos objetos.
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Em sua longa e complexa
vida, a língua portuguesa (compreendendo-se o português europeu, o brasileiro,
os dialetos e/ou falares) tem conseguido, ao longo do tempo, manter uma apreciável
unidade, ainda que essa reconhecida unidade da língua portuguesa não a
impeça que haja sensíveis diferenças de pronúncia, de vocabulário, de
construções. Como também, a estrutura da língua portuguesa não permite a
limitação da sua criação nem do seu desenvolvimento. Pelo contrário, a língua
portuguesa apresenta todas as possibilidades virtuais de enriquecimento e de
mudanças.
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A
modificação de palavras na língua portuguesa
Desde que foi fixada pela escrita, a língua
portuguesa passou a sofrer modificações, principalmente na sua fonética
e morfologia. Exemplos:
Fonética
angulo / anjo
aquende
/ aquen / aquém
arena
/ areia
bucina / buzina
caballu / cavalo
comprare
/ comprar
colore
/ côr / cor
cousa
/ coisa
denariu / dinheiro
ecclesia / eigreija / igreja
femina / femea / fêmea
fructu
/ fruto
genuculu / geolho / joelho
gram
/ grande
matre / mãe
maturu
/ maduro
musca
/ mosca
navigiu / navio
nigru
/ negro
passione / paixão
poombo
/ pombo
piluca
/ pulga
paucu
/ pouco
quaternu / caderno
regina / rainha
sapere / saber
sapone
/ sabão
solitate
/ soidade / saudade
simplice
/ simples
teer/ ter
tempu
/ tempo
verrere / varrer
viginti
/ vinti / vinte
Morfologia
Plural
avisso(s) / aviso(s)
beençom(ões) / bênção(ãos)
simplez(es) / simples
Gênero
o pecador / o(a) pecador(a)
o
pastor / o(a) pastor(a)
o espanhol / o(a) espanhol(a)
Numeral
sasseenta / sessaenta / sessenta
Pronome
ma / minha
Verbo
Poder: (eu) pudi, (tu) pode, (ele) pude, (nós) pudemos, (vós) podeste, (eles) podem...
Seer: (eu) cinjo/som/sõo, (tu) sees/es, (ele)
see/é, (nós) seemos/somos, (vós) seedes/sodes, (eles) seem/som/são; (eu)
foi/fui, (tu) fuisti/ fusti/ fuste, (ele) foi/fui, (nós) fomos...
Preposição
antre / entre
avante/
adiante
depôs / depois
so / sob
Advérbio
aça / aqui
alá
/ lá
entonce / então
Conjunção
adversativa: mas, pero
concessiva:
pero, pero que, siquer
conclusiva:
ergo
temporal:
pois, entanto, sol que
Processo
de formação de palavras na língua portuguesa
Como a língua é um organismo
vivo, modifica-se no tempo. Palavras novas surgem para expressar conceitos igualmente
novos. O contato com línguas estrangeiras faz com que se incorporem outros
vocábulos. Há na língua portuguesa, portanto, um processo formador
de palavras, oriundo da influência de diversas línguas. Eis alguns:
Por prefixação
endoscopia
hipoteca
interpelar
retroceder
Por sufixação
ausente
bronquite
elefantíase
lealdade
Por radicais da mesma língua
demo + agogo = demagogo
herbi + cida = herbicida
Por radicais de línguas diferentes
buro + cracia = burocacia
tele + visão = televisão
Por acrônimo
LP (abreviatura de long play) = elepê
Palavras da língua portuguesa, originadas de
outras línguas
do árabe:
hárán (local proibido ou protegido, lugar reservado) = harém
do bizantino: gálea (um tipo de peixe) = galera
do escandinavo: gabb (mentira) = gabar
do francês: garçon (menino, moço) = garçom
do gótico: kruppa (anca do cavalo e dos quadrúpedes) = garupa
do grego: mythos (conto, fábula) = mito
do guarani: y-nhemby (rio abaixo) = Anhembi
do hebraico: fulani (um dentre muitos, um tal) =
fulano
do inglês: foot (pé) + ball (bola) = futebol
do holandês: fraught (carregar) = frete
do japonês: geixa (oriundo de gei = arte + xá =
pessoa: pessoa de arte) = gueixa
do kariri (língua): kropobó (guerra, luta) = Cabrobó
do malaiala: changadam (balsa, uma junção de madeiras para salvamento de
náufragos) = jangada
do orubá: baba (pai) + olo (dono) + orixá (divindade) = babalorixá
do quimbundo: njimbu (fruto do jiloeiro) = jiló
do tupi: aba (homem) + iara (senhor) = Abaiara
do tupi-guarani: ybyoca (buraco na terra) = biboca
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Fragmentos de textos da língua
portuguesa
no século XIX (publicação de 1864)
“Ha
muitos, que andão vagando sem terem morada certa, e como são de má condição,
deixando a primeira mulher, sendo ella viva, pela maior parte recebem muitas,
em diversos lugares. Querendo o santo Concilio acautelar este achaque, avisa
paternalmente a todos a quem pertence, que não recebão facilmente semelhante
genero de homens vagamundos, ao Matrimonio. E também exhorta os Magistrados
Seculares, para que os reprimão com severidade: quanto aos Párocos, lhes manda,
que não assistão aos seus Matrimônios, sem primeiro fazerem diligente
inquirição, e devolvido o negocio ao Ordinário, alcançarem delle para o
fazerem.”
(do Concilio de Trento, capítulo VII)
no século XX (publicação de 1923)
“Thomaz
Antonio Gonzaga é, na evolução da nossa literatura, o typo representativo do
lyrismo clássico. Graças á espontaneidade da sua fórma, á suavidade da sua
expressão (…) Gonzaga foi victima dos interesses da província de Minas, depois
de se haver alçado á posição de um dos primeiros poetas do seu paiz (…) Seu pae
era ouvidor do Porto… Foi ahi, portanto, que o futuro poeta passou, como elle
próprio o disse, a flor da sua idade. (…) Quanto ao mais, podiam accusal-o de
ter conhecido projectos que elle julgava chimericos… (…) Todavia, os juizes,
entre os quaes estava um seu amigo…, não pareceram achar outras provas da sua
culpabilidade, sinão o facto da sua ligação com alguns dos conjurados. Accusaram-n-o …
(…) Apesar de tudo, Gonzaga foi condemnado… a um degredo perpetuo… Esta pena
foi coomutada em dez annos de exílio… (…) Só em 1809 foi que a morte pôz termo
a tão miseranda vida!”
(Gonzaga, Thomas Antonio. Sua vida e
suas obras)
no século XX (publicação de 1979)
“A
colectividade portuguesa é a legítima defesa da pessoa humana portuguesa. Seis
milhões e meio de portugueses são seis milhões e meio de vidas portuguesas sob
a garantia da colectividade portuguesa. Toda e qualquer raridade da pessoa
humana portuguesa há-de caber inteira na colectividade portuguesa. (…) A
Península Ibérica já foi cabeça do mundo com a forte Espanha e o heróico
Portuigal. A Península Ibérica fez a América Latina. A Península Ibérica
espalhou por toda a terra o sangue de Espanha e os padrões de Portugal. (…)
Portugal e Espanha são dois opostos e não dois rivais. Este todo está
representado geograficamente pela Península Ibérica e em espírito pela
civilização ibérica”.
(MOURÃO-FERREIRA, David. Portugal, a terra e
o homem)
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PORTUGUÊS DO BRASIL
O
português europeu, trazido ao Brasil pelos primeiros colonizadores, encontrou
aqui as línguas indígenas. Depois, com a importação dos escravos africanos, surgiram
“dialetos crioulos” que tinham por base a língua portuguesa.
Com a criação de um decreto
que proibia o uso da língua geral (que era um tupi simplificado,
gramaticalizado pelos jesuítas), a língua portuguesa passa a
ser oficializada em toda a extensão do território brasileiro.
Tornou-se ela, portanto, a língua dominante no Brasil através
da Lei do Directório, promulgada pelo Marquês de Pombal em 1757,
durante o governo de D. João VI. Nela se impedia o uso da língua geral
até então mais usada que tinha por base o Tupi e o Português, “invenção
verdadeiramente abominável e diabólica”; não se permitindo que “meninos e
meninas e todos aqueles índios, que forem capazes de instrução (…) usem língua
própria das suas nações, ou da chamada geral, mas unicamente da portuguesa”.
(Artigo 6 do Directório).
Com a Independência do Brasil,
em 1822, criou-se um ambiente propício para o desenvolvimento de uma
literatura, e até mesmo, de uma língua verdadeiramente
brasileira. Além disso, após a Independência, o País se deixou influenciar
pela cultura francesa. Muitos galicismos incorporaram-se ao léxico português
(sutiã, maiô…).
De lá para cá, houve transformações
em nossa língua. imigrantes europeus, sobretudo alemães e italianos, deram sua
contribuição cultural e linguística (tchau, pizza, espaguete…). Português
europeu se distinguia do português brasileiro (bica / cafezinho, bicha / fila,
cueca/calcinha, pica / injeção, telemóvel / celular, rato / mouse…).
Além do mais, a nossa
literatura romântica timbrou em criar a literatura brasileira. Convergiram-se
estudos para a discussão em torno da língua portuguesa no Brasil, configurando
um dialeto ou não. Estudiosos da língua chegaram até, de modo exagerado, querer
diferenciar, ou até mesmo trocar, nome de português falado no Brasil
pelo de brasiliense, de brasilusa, ou de língua brasileira.
Passaram a estudar nossos
falares, variações linguísticas, variedades da língua portuguesa encontradas no
Brasil, particularidades de cada região em seu contexto social, em todos os
seus aspectos.
Enfim, a língua portuguesa
no Brasil foi se formando gradualmente com participação e incorporação de
outras culturas que chegaram ao País, após o descobrimento. Atualmente, tem-se
uma sociedade com grande diversidade cultural, cada grupo e região com suas peculiaridades,
embora se concordando com a teoria na qual a Língua deva ter o seu Padrão, como
forma de unificar os falares e não como uma punição.
LP LP LP LP LP
Conclusão
A Língua Portuguesa, como
qualquer outra língua, é objeto histórico, enquanto saber transmitido, podendo
se transformar no tempo e se diversificar no espaço.
Sendo a continuação do que
foi em épocas anteriores, é evidente que a etapa presente da nossa língua
portuguesa não é de nenhum modo idêntica, mas somente semelhante a qualquer
etapa anterior. Assim, as modalidades de língua portuguesa de aquém e de além-mar
não são exatamente idênticas, de tal modo que um brasileiro, por exemplo, pode
perfeitamente identificar um português pelas características específicas de seu
modo de falar.
Ainda, os fatores de
diversidade linguística não ficam limitados a aspectos temporal e espacial.
Observa-se haver no seio de um instrumento de comunicação quatro modalidades
específicas de variações linguísticas, respectivamente: histórica ou
diacrônica, geográfica e espacial, social e estilística. Falso é supor que
essas modalidades possam coexistir, de forma independente, numa língua
qualquer.
Sabendo-se que a
petrificação linguística é a morte do idioma, é inadmissível conceber a
hipótese de que Portugal deva ter sempre o controle normativo da língua
portuguesa. Assim, para lutarmos pela conservação da unidade relativa de nossa
língua, ou a sua padronização, faz-se necessário, obviamente, partirmos da
realidade atual, isto é, da forma por que a utiliza efetivamente cada país da
comunidade idiomática, sem nos esquecer de que a língua escrita é que
consubstancia, em última análise, o falar geral.
A Língua
Portuguesa tende a projetar-se no mundo.