Língua Portuguesa: resumo histórico

Fábula
                      
                                   A aguya e o caguado
 
        Comta-sse que húa vez que húa aguya leuaua hún caguado, com os pees no haar e nom ssabia como o comesse. E, assy estamdo, saltou peramte ella húa gralha e disse aa dita aguia:
    - Queres que te dê hún conselho? Aleuanta-te bem em cima no haar e abre as hunhas e leixa cayr esse caguado, e cairá em terra; e quebramtar-sse-ha, e emtom o poderás comer, ca he muy ssaboroso de comer.
        E a aguia feze-o assy. E pella limguoa da gralha morreo ho caguado.
    Em aquesta hestoria o doutor ameestra os homées que deuem temperar ssuas linguoas e nom as deuem teer ssem freo, pollas quaees pode proceder dapno e escamdalo a sseu próximo, porque da linguo que nem he temperada sse sseguem arroydos e mortes de homées e outros jimfijmdos males. E húu proberbio: diz:
        A limguoa nom ha osso / Mais rrompe o dosso.

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Poema
 
        Língua Portuguesa
 
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És a um tempo, esplendor e sepultura
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
 
Em que de voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
 
                                     Olavo Bilac
 
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A Língua Portuguesa é falada pelos cinco continentes, sendo a língua oficial dos países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste. É a sexta língua mais falada no mundo e vem após o chinês, o inglês, o espanhol, o híndi (Índia) e o árabe. Após o inglês e o espanhol é a língua mais falada no Ocidente. 
 
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A Língua Portuguesa provém do latim que se entronca, por sua vez, na grande família das línguas indo-europeias, representada hoje em todos os continentes.
Línguas indo-europeias: grande família

As línguas indo-europeias dividiam-se em dois ramos principais:
 
SATEM  (ou grupo oriental)
 
a) balto-eslavo:

b) eslavo: eslavo oriental (russo, ucraniano, bielo-russo), eslavo ocidental (polábio, polonês, eslovaco, tcheco, sorábio), eslavo do sul (eslavônico, servo-croata, búlgaro, macedônico), báltico-lituano, letão, semigálio, curônio, prussiano;

c) ilírico: albanês;

d) tocarino;

e) anatólico: hitita, luvita, hieróglifo, líbio, palatita;

f) indo-iraniano: iraniano: persa, pusthu, curdo, urdo

g) indo-iraniano: sânscrito, hindi, bengali;

h) armênio.
 
CENTUM (ou ramo ocidental)
 
a) céltico: britânico (galês, bretão, córnico), gaélico (gaélico irlandês, gaélico escocês, manx);

b) germânico: germânico do norte (sueco, norueguês, islandês, dinamarquês), germânico ocidental (alto germânico ou alemão literário), germânico oriental (gótico, vândalo, burgúndio), baixo germânico (flamengo, holandês, trisão, franco, saxão, inglês, alemão popular);

c) helênico: jônio, atiço, dórico, eólio, aqueu, micênio, grego moderno;

d) itálico: latim (catalão, galego, sardo, provençal, romeno, espanhol, francês, italiano, rético, dálmata, osco, umbro, português).
 
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Latim e a sua origem
       
O Latim é uma língua da família denominada indo-europeia, do grupo itálico. Tornou-se, por motivos históricos, a mais importante dessa família. Não era senão um dos vários dialetos da Península Itálica.        

A princípio, um simples falar de um povo de cultura rústica, vivendo no centro da Península Itálica, o Lácio, foi-se o Latim estendendo com o poder romano. Era a língua falada em Roma. Com as guerras e as conquistas romanas, esse idioma expandiu-se por toda a Europa. Os romanos impuseram sua língua, sua cultura e seus costumes aos povos conquistados. Para garantir a dominação política, os romanos exigiam que, em todo o vasto Império, o latim fosse de uso obrigatório nas escolas, nas transações comerciais, nos documentos, nos atos oficiais e no serviço militar. Só o Grego lhe resistiu, na Grécia e no Oriente Próximo. E o latim chegou a incorporar uma grande quantidade de palavras gregas.

Como qualquer língua viva, durante oito ou nove séculos, a língua dos Romanos foi modificando-se pouco a pouco, sobretudo em contato com as diferentes línguas já existentes nas várias províncias de Roma. Antes da decadência do Império Romano, já se notava claramente uma divisão, a saber: Latim clássico (gramaticalizado, literário, usado pelos poetas, prosadores e pessoas cultas, nas formas oral e escrita) e o Latim vulgar (usado pelo povo, e apenas falado).  A língua falada nas regiões romanizadas, portanto,  era o latim vulgar.

Mais tarde, com a decadência do Império Romano, as várias regiões ficaram praticamente entregues a si próprias, e, por isso, isoladas. Acentuaram-se nelas as diferenças linguísticas, quebrando-se, assim, a uniformidade linguística. Os habitantes dessas regiões deixaram de usar o mesmo código e, por sua vez, de se compreender. Diante disso, ocasionou-se o aparecimento de línguas diferentes, embora aparentadas, as quais se passaram a chamar-se de romanços ou romances (falares à maneira dos romanos). Mais tarde, de línguas neolatinas. Assim, do latim nasceram as línguas românicas.
 
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ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
 
A língua portuguesa, uma das chamadas românicas, isto é, das que trazem a sua origem do latim, e pode considerar-se na sua essência como evolução deste, desenvolveu-se na costa oeste da Península Ibérica, mais precisamente na província romana da Lusitânia.

Vale salientar que essa península, por sua localização privilegiada e por suas riquezas, sempre foi uma região muito disputada por diferentes povos, como celtas, germânicos, púnicos-fenícios, gregos, lígures, árabes; os quais deixaram marcas culturais e linguísticas. A invasão muçulmana e, mais tarde, a Reconquista, pelos cruzados, tornaram-se acontecimentos determinantes para a formação de três línguas peninsulares: catalão (a leste), castelhano (no centro), galego-português (a oeste).

Galego-português

No período que vai do século IX ao XII (surgimento dos primeiros documentos latino-portugueses), considerado uma época de transição, alguns termos portugueses apareceram nos textos escritos em latim bárbaro. Ao léxico latino, que sofreu numerosas alterações fonéticas, são acrescentadas palavras provenientes de diversas línguas. Num primeiro momento, o galego-português é apenas a língua da lírica trovadoresca.  

A partir do início do século XIII, é nessa “língua vulgar” que surgem documentos, tais como testamentos, títulos de vendas etc. O galego-português consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia
 
Fragmento de texto em galego-português 

“… Aquel que casa fezer ou uinha ou sa herdade onrrar e per 1 ano en ella seuer, de depoys en outra terra morar quiser, seruia a el toda sa herdade u quer que morar. E, se as quiser uender, uenda a quem quiser per foro de uossa cidade. …Homèes da Guarda, nõ por meyrìho, nè seyã pennorados senõ por seu uizio. Cavaleyros da Guarda nè molheres uiuuas nõ dè pousada per foro da Guarda seno per mãdado do uiiz. Omèes de uossos termyos que severè em nossas herdades ou em nossos solares e seus senhores non forè y, uenã ao synal do iuiz e dè fiadores que respõdã o dereyto, quanto ueerè seus senhores. E a VII ao paaço, e nõ seruiã outro homè seno a seus senhores em cuios solares seuerè. Senharas e uìhas delrey aja tal foro qual as searas e as uinhas nossas ouuerè. E que seu iizio matar e en sa casa fogir, què depoys a el entrar e o y matar peyte CCC soldos. …Omè da Guarda que molher ouuera bèeçõ, se el ha leyxar, peyte I dinheiro ao iuiz. Se a molher leyxar seu marido que ouuer a bèeções, peyte CCC soldos e a meydade seya de su marido. (…) Outras entenções iuygè segùndo seu sen, assi como melhor poderè. 
(Códice Foraes antigos da Guarda he leis antigas do Reino)
 
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PORTUGUÊS
 
À medida que os cristãos avançaram para o sul, os dialetos do Norte interagiram com os dialetos moçárabes do Sul, começando o processo de diferenciação do português em relação ao galego-português. E essa separação entre o galego e o português ocorreu sobretudo com a independência de Portugal (século XII), e se consolidando com a expulsão dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país.

Depois da independência política, iniciou-se um processo de autonomização linguística no Condado Portucalense. Dom Dinis ordenou que, daí em diante, todos os livros e documentos passassem a ser escritos em português. Esse rei-trovador, ao promover o desenvolvimento cultural do país (fundou, por exemplo, a Universidade de Coimbra), ordenou, portanto, que fosse usada a língua portuguesa nos documentos públicos, além de que se traduzisse a Bíblia.

Na metade do século XIV, o português tornou-se a língua de Lisboa. Também o eixo Lisboa-Coimbra transformou-se em centro de domínio da língua portuguesa. É aí que o português moderno vai constituir-se. Surge a prosa literária em português, com a Crônica Geral de Espanha e o Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde de Barcelona.

Fragmento de texto da língua portuguesa no século XIV
 
“Despois que esta rainha veo a Portugal, recreceo discordia entre elrey D. Dinis e o infante D. Affonso, seu irmão; e esta rainha, vendo esta discordia e este mal entre elles, e cercando el rey alguns logares, que o infante tinha, e filhando-os, para non recrecer discordia maior e dano em a terra, tratou esta rainha per si e por seu conselho e por prelado e outros homens bons aueença entre elrey e o infante, seu irmão, e, para se fazer paz e concordia, entregou a elrey a villa de Sintra, que ella tinha de Sá mão delrey, e deu a elrey outros logares ao infante para se manter com elles. E fez que o infante ficasse por vassalo delrey e para se seer a seu seruiço em todo o tempo, quando a elrey comprisse Sá ajuda e seu seruiço…”. 
(Da Relaçam da vida gloriosa Santa Isabel, Rainha de Portugal…)

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A Língua Portuguesa moderna
 
Iniciou-se no século XVI quando a língua se uniformizou e adquiriu características do português atual. Nesse processo de uniformização, a literatura renascentista portuguesa, sobretudo a produzida por Camões, desempenhou um papel essencial. 
As primeiras gramáticas (como a Grammatica da lingoagem portuguesa, de padre Fernão de Oliveira, publicada em 1536) e os primeiros dicionários dataram desse século.

A partir da época das descobertas, ou a construção do império português de ultramar, a língua portuguesa fez-se presente em várias regiões da África, América e Ásia. Recebeu também marcas dessas regiões, ou seja, os vocábulos portugueses aumentaram. Além do mais, com o Renascimento, aumentou-se o número de italianismos e palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e maleável. Dessa maneira, proliferou-se na Língua Portuguesa a adoção de vocábulos de outras línguas adaptados à fonética da língua portuguesa, ou os estrangeirismos; além da criação de novos vocábulos necessários para designar as novas realidades, ou os neologismos.

Ainda no século XVI, com o Renascimento, o latim passou a ser prestigiado. Restauraram-se formas latinas antes modificadas (paterno/pai, plaga/praia, pluvial/chuva…); e formas nominais sintéticas (maior, menor, superior, inferior, fidelíssimo, paupérrimo…).

Fragmento de texto da língua portuguesa no século XVI
 
“Eu El Rey faço saber a quantos este Alvará virem que ey por bem, e me praz dar licença a Luís de Camões para que possa impremir nesta ciodade de Lisboa hùa obra em outava rima chamada os Lusíadas, que contem dez cantos perfeitos, na qual por ordem poética, em versos se declarão os principais  (feitos dos Portuguezes nas partes da Índia depois que se descobrio a navegação para ellas por mandado d’El Rey D. Manuel, meu visavo (que santa gloria aja). E isto com prevelegio, pêra que em tempo de dez annos que se começarão do dia que se a dita obra acabar de emprimir em diante, se não possa emprimir nem vender em meus reinos e senhorios nem trazer a elles de fora, nem levar das ditas partes da Índia para se vender sem licença do dito Luis de Camões, ou da pessoa que pêra isso seu poder tiver, sob pena de, quem o contrário fizer, pagar cincoenta cruzados e perder os volumes que impremir ou vender, a metade para o dito Luis de Camões, e a outra metade para quem os acusar…” 
(Fragmento do alvará que trazia o privilégio para a impressão dos Lusíadas, de 1571)
 
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A partir do século XVI, substituíram-se:
 
Formas populares:
fremoso / formoso, onzeno / décimo primeiro)
 
Surgiram palavras novas:
da Itália (piloto, galera, fragata...)
da África (girafa, banana, batuque...)
da Turquia (quiosque, harém...)
da Malaca (bule, pires, bambu...)
da China (chá, chávena...)
do Japão (leque...)
da Índia (pagode...)
 
Tornaram-se evidentes as contribuições ao léxico português:
de línguas africanas, asiáticas e do inglês
 
Estudiosos portugueses foram buscar seus conhecimentos na cultura francesa, introduzindo galicismos ao léxico português:
chefe, boné, blusa, rouge…
 
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Nos séculos XIX e XX o vocabulário português recebeu novas contribuições 
 
Surgiram termos de origem greco-latina para designar os avanços tecnológicos da época (como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês em ramos como as ciências médicas e a informática (check-up e software). 
 
O volume de novos termos, por sua vez, estimulou a criação de uma comissão composta por representantes dos países de língua portuguesa, em 1990, para uniformizar o vocabulário técnico e evitar o agravamento do fenômeno de introdução de termos diferentes para os mesmos objetos.
 
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Em sua longa e complexa vida, a língua portuguesa (compreendendo-se o português europeu, o brasileiro, os dialetos e/ou falares) tem conseguido, ao longo do tempo, manter uma apreciável unidade, ainda que essa reconhecida unidade da língua portuguesa não a impeça que haja sensíveis diferenças de pronúncia, de vocabulário, de construções. Como também, a estrutura da língua portuguesa não permite a limitação da sua criação nem do seu desenvolvimento. Pelo contrário, a língua portuguesa apresenta todas as possibilidades virtuais de enriquecimento e de mudanças.  
 
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A modificação de palavras na língua portuguesa
    
Desde que foi fixada pela escrita, a língua portuguesa passou a sofrer modificações, principalmente na sua fonética e morfologia. Exemplos: 

Fonética
angulo / anjo
aquende / aquen / aquém 
arena / areia
bucina / buzina
caballu / cavalo
comprare / comprar
colore / côr / cor
cousa / coisa
denariu / dinheiro
ecclesia / eigreija / igreja
femina / femea / fêmea
fructu / fruto
genuculu / geolho / joelho
gram / grande
matre / mãe
maturu / maduro
musca / mosca
navigiu / navio
nigru / negro
passione / paixão
poombo / pombo
piluca / pulga
paucu / pouco
quaternu / caderno
regina / rainha
sapere / saber
sapone / sabão
solitate / soidade / saudade
simplice / simples
teer/ ter
tempu / tempo
verrere / varrer
viginti / vinti / vinte 

Morfologia

Plural
avisso(s) / aviso(s)
beençom(ões) / bênção(ãos)
simplez(es) / simples 

Gênero
o pecador / o(a) pecador(a)
o pastor / o(a) pastor(a)
 o espanhol / o(a) espanhol(a)

Numeral
sasseenta / sessaenta / sessenta

Pronome
ma / minha

Verbo
Poder: (eu) pudi, (tu) pode, (ele) pude, (nós) pudemos, (vós) podeste, (eles) podem...
Seer: (eu) cinjo/som/sõo, (tu) sees/es, (ele) see/é, (nós) seemos/somos, (vós) seedes/sodes, (eles) seem/som/são; (eu) foi/fui, (tu) fuisti/ fusti/ fuste, (ele) foi/fui, (nós) fomos...
 
Preposição
antre / entre
avante/ adiante
depôs / depois
so / sob

Advérbio
aça / aqui
alá / lá
entonce / então

Conjunção
adversativa: mas, pero
concessiva: pero, pero que, siquer
conclusiva: ergo 
temporal: pois, entanto, sol que 
 
Processo de formação de palavras na língua portuguesa
 
Como a língua é um organismo vivo, modifica-se no tempo. Palavras novas surgem para expressar conceitos igualmente novos. O contato com línguas estrangeiras faz com que se incorporem outros vocábulos. Há na língua portuguesa, portanto, um processo  formador de palavras, oriundo da influência de diversas línguas. Eis alguns:

Por prefixação
endoscopia
hipoteca
interpelar
retroceder
Por sufixação
ausente
bronquite
elefantíase
lealdade

Por radicais da mesma língua
demo + agogo = demagogo
herbi + cida = herbicida

Por radicais de línguas diferentes
buro + cracia = burocacia
tele + visão = televisão

Por  acrônimo
LP (abreviatura de long play) = elepê

Palavras da língua portuguesa, originadas de outras línguas
do árabe: hárán (local proibido ou protegido, lugar reservado) = harém
do bizantino: gálea (um tipo de peixe) = galera
do escandinavo: gabb (mentira) = gabar
do francês: garçon (menino, moço) = garçom
do gótico: kruppa (anca do cavalo e dos quadrúpedes) = garupa
do grego: mythos (conto, fábula) = mito
do guarani: y-nhemby (rio abaixo)  = Anhembi
do hebraico:  fulani  (um dentre muitos, um tal) = fulano
do inglês: foot (pé) + ball (bola) = futebol
do holandês: fraught (carregar) = frete
do japonês: geixa  (oriundo de gei = arte + xá = pessoa:  pessoa de arte) = gueixa
do kariri (língua): kropobó (guerra, luta) = Cabrobó
do malaiala: changadam (balsa, uma junção de madeiras para salvamento de náufragos) = jangada
do orubá: baba (pai) + olo (dono) + orixá (divindade) = babalorixá
do quimbundo:  njimbu (fruto do jiloeiro) = jiló
do tupi:  aba (homem) + iara (senhor) = Abaiara
do tupi-guarani: ybyoca (buraco na terra) = biboca

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Fragmentos de textos da língua portuguesa 

no século  XIX (publicação de 1864)
 
“Ha muitos, que andão vagando sem terem morada certa, e como são de má condição, deixando a primeira mulher, sendo ella viva, pela maior parte recebem muitas, em diversos lugares. Querendo o santo Concilio acautelar este achaque, avisa paternalmente a todos a quem pertence, que não recebão facilmente semelhante genero de homens vagamundos, ao Matrimonio. E também exhorta os Magistrados Seculares, para que os reprimão com severidade: quanto aos Párocos, lhes manda, que não assistão aos seus Matrimônios, sem primeiro fazerem diligente inquirição, e devolvido o negocio ao Ordinário, alcançarem delle para o fazerem.” 
(do Concilio de Trento, capítulo VII)

no século XX (publicação de 1923)
 
“Thomaz Antonio Gonzaga é, na evolução da nossa literatura, o typo representativo do lyrismo clássico. Graças á espontaneidade da sua fórma, á suavidade da sua expressão (…) Gonzaga foi victima dos interesses da província de Minas, depois de se haver alçado á posição de um dos primeiros poetas do seu paiz (…) Seu pae era ouvidor do Porto… Foi ahi, portanto, que o futuro poeta passou, como elle próprio o disse, a flor da sua idade. (…) Quanto ao mais, podiam accusal-o de ter conhecido projectos que elle julgava chimericos… (…) Todavia, os juizes, entre os quaes estava um seu amigo…, não pareceram achar outras provas da sua culpabilidade, sinão o facto da sua ligação com alguns dos conjurados. Accusaram-n-o  … (…) Apesar de tudo, Gonzaga foi condemnado… a um degredo perpetuo… Esta pena foi coomutada em dez annos de exílio… (…) Só em 1809 foi que a morte pôz termo a tão miseranda vida!”  
(Gonzaga, Thomas Antonio. Sua vida e suas obras)
 
no século XX (publicação de 1979)
 
“A colectividade portuguesa é a legítima defesa da pessoa humana portuguesa. Seis milhões e meio de portugueses são seis milhões e meio de vidas portuguesas sob a garantia da colectividade portuguesa. Toda e qualquer raridade da pessoa humana portuguesa há-de caber inteira na colectividade portuguesa. (…) A Península Ibérica já foi cabeça do mundo com a forte Espanha e o heróico Portuigal. A Península Ibérica fez a América Latina. A Península Ibérica espalhou por toda a terra o sangue de Espanha e os padrões de Portugal. (…) Portugal e Espanha são dois opostos e não dois rivais. Este todo está representado geograficamente pela Península Ibérica e em espírito pela civilização ibérica”. 
(MOURÃO-FERREIRA, David. Portugal, a terra e o homem)
 
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PORTUGUÊS DO BRASIL
 
O português europeu, trazido ao Brasil pelos primeiros colonizadores, encontrou aqui as línguas indígenas. Depois, com a importação dos escravos africanos, surgiram “dialetos crioulos” que tinham por base a língua portuguesa.

Com a criação de um decreto que proibia o uso da língua geral (que era um tupi simplificado, gramaticalizado pelos jesuítas), a língua portuguesa passa a ser oficializada em toda a extensão do território brasileiro. Tornou-se ela, portanto, a língua dominante no Brasil através da Lei do Directório, promulgada pelo Marquês de Pombal em 1757, durante o governo de D. João VI. Nela se impedia o uso da língua geral até então mais usada que tinha por base o Tupi e o Português, “invenção verdadeiramente abominável e diabólica”; não se permitindo que “meninos e meninas e todos aqueles índios, que forem capazes de instrução (…) usem língua própria das suas nações, ou da chamada geral, mas unicamente da portuguesa”. (Artigo 6 do Directório).

Com a Independência do Brasil, em 1822, criou-se um ambiente propício para o desenvolvimento de uma literatura, e até mesmo, de uma língua verdadeiramente brasileira.  Além disso, após a Independência, o País se deixou influenciar pela cultura francesa. Muitos galicismos incorporaram-se ao léxico português (sutiã, maiô…).

De lá para cá, houve transformações em nossa língua. imigrantes europeus, sobretudo alemães e italianos, deram sua contribuição cultural e linguística (tchau, pizza, espaguete…). Português europeu se distinguia do português brasileiro (bica / cafezinho, bicha / fila, cueca/calcinha, pica / injeção, telemóvel / celular, rato / mouse…).

Além do mais, a nossa literatura romântica timbrou em criar a literatura brasileira. Convergiram-se estudos para a discussão em torno da língua portuguesa no Brasil, configurando um dialeto ou não. Estudiosos da língua chegaram até, de modo exagerado, querer diferenciar, ou até mesmo trocar, nome de português falado no Brasil pelo de brasiliense, de brasilusa, ou de língua brasileira.

Passaram a estudar nossos falares, variações linguísticas, variedades da língua portuguesa encontradas no Brasil, particularidades de cada região em seu contexto social, em todos os seus aspectos.

Enfim, a língua portuguesa no Brasil foi se formando gradualmente com participação e incorporação de outras culturas que chegaram ao País, após o descobrimento. Atualmente, tem-se uma sociedade com grande diversidade cultural, cada grupo e região com suas peculiaridades, embora se concordando com a teoria na qual a Língua deva ter o seu Padrão, como forma de unificar os falares e não como uma punição.
 
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Conclusão
 
A Língua Portuguesa, como qualquer outra língua, é objeto histórico, enquanto saber transmitido, podendo se transformar no tempo e se diversificar no espaço.

Sendo a continuação do que foi em épocas anteriores, é evidente que a etapa presente da nossa língua portuguesa não é de nenhum modo idêntica, mas somente semelhante a qualquer etapa anterior. Assim, as modalidades de língua portuguesa de aquém e de além-mar não são exatamente idênticas, de tal modo que um brasileiro, por exemplo, pode perfeitamente identificar um português pelas características específicas de seu modo de falar.

Ainda, os fatores de diversidade linguística não ficam limitados a aspectos temporal e espacial. Observa-se haver no seio de um instrumento de comunicação quatro modalidades específicas de variações linguísticas, respectivamente: histórica ou diacrônica, geográfica e espacial, social e estilística. Falso é supor que essas modalidades possam coexistir, de forma independente, numa língua qualquer.  

Sabendo-se que a petrificação linguística é a morte do idioma, é inadmissível conceber a hipótese de que Portugal deva ter sempre o controle normativo da língua portuguesa. Assim, para lutarmos pela conservação da unidade relativa de nossa língua, ou a sua padronização, faz-se necessário, obviamente, partirmos da realidade atual, isto é, da forma por que a utiliza efetivamente cada país da comunidade idiomática, sem nos esquecer de que a língua escrita é que consubstancia, em última análise, o falar geral.

A  Língua Portuguesa  tende a projetar-se no mundo.

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