Literatura do Folclore: A alegria e a dor - conto

Petko, um rico senhor, vivia em plena alegria. Seu belo palácio, situado numa pequenina cidade rumena não conhecia traições, invejas, enfermidades, intrigas, ódios, lágrimas. Ali reinava o amor, a concórdia, a saúde. Tudo o que Petko fazia ou dizia era como semente mágica que, caída por acaso num terreno, eclodisse em floradas esplêndidas e frutos opulentos.


Petko, certa feita, dirigiu-se para uma aldeia em que grassava a peste. Não ouviu os conselhos dos amigos que se preocupavam com a sua saúde, e passou a visitar os enfermos, a confortá-los com pequeninos presentes, doces, leite. A peste, que já havia feito centenas de vítimas, extinguiu-se miraculosamente na hora em que os médicos passavam a prever que sua violência recrudesceria.


Bastou, doutra vez, que Petko se dirigisse a uma região em que as chuvas insistentes de muitos dias estavam comprometendo seriamente a colheita e o gado, para o céu, subitamente, se tornasse claro e limpo de nuvens, e os sorrisos do sol devolvessem ao povo a segurança e a alegria.


Mas Petko temia os caprichos da sorte.


- Tudo isto é fortuna demasiada para um mortal, refletia, estremecendo a cada vez que pensava no que lhe sucedia. É difícil que dure sempre, pois lá diz a sabedoria dos antigos que "não há bem que sempre dure nem mal que não se acabe".


Um dia, foi ao rio a fim de se banhar. Um anel, a que dedicava muito estima por ser uma recordação da família, lhe fugiu do dedo. Mas contrariamente às leis físicas, o precioso aro não foi ao fundo: passou a boiar, como se fora um pétala de rosa, na superfície líquida.

A ânsia de Petko se tornou mais exacerbada. "A benevolência da sorte chegou ao cúmulo, e toda medalha tem seu reverso", pensou ele. "Depois de tantas carícias, chegará a vez das pancadas".

E não se enganava. Justamente naquele mesmo dia, dois policiais o apanharam e levaram algemado. Espalhara-se o boato de que ele, aproveitando-se da grande simpatia popular de que desfrutava, tinha tentado um golpe de Estado para apoderar-se do governo, destronar o rei e implantar a república. Seus protestos foram inúteis. As lágrimas e juramentos de inocência da mulher e dos filhos encontraram a indiferença. O rei o considerava um ser perigoso, um rival temível, um conspirador que devia ser mantido incomunicável no fundo do mais tenebroso dos cárceres. Ali, o pobre viveu anos, em companhia do frio, da fome e do desespero. A mulher e o filho, sem casa, com os bens todos confiscados, tiveram que andar ao léu, pedindo esmolas para viver. Só tinham uma ambição: rever o pobre prisioneiro, falar-lhe, dar-lhe um pouco de conforto. A mulher, enfim, conseguiu falar com o rei. Proclamou a inocência do marido, chorou e obteve autorização para ir visitá-lo. 

Petko estava irreconhecível. Nem mais parecia um homem Semelhava-se a um cadáver saído de uma tumba. Falava com muita dificuldade:

- Como eu provaria um pouco de verdura em salada! Há anos que só me dão pão seco e alguma carne às vezes!

A mulher saiu, implorou aqui e ali, obteve um repolho, preparou-o com cuidado e voltou lá para satisfazer o pobre homem.

- Come. Aqui está uma verdura tal qual apreciava tanto.

Destampou a vasilha e deu um grito. Dois enormes ratos saltaram e correram a se esconder no primeiro buraco. Haviam entrado, os famintos, sem que a mulher visse, dentro da vasilha e tinham se divertido em comer todo o repolho durante o caminho da mulher à prisão. 

- Petko, meu infeliz, nem mesmo essa humilde satisfação te foi concedida.

Mas o homem se animou e sorriu.

- Estou contente, agora. Como é verdade que a sorte se cansa de conceder favores, também se cansa de perseguir. Os insultos do destino atingiram o ponto mais cruciante. Agora, tenho fé, irá recomeçar a alegria. 

E mais uma vez não se enganava. Com a audiência dada à mulher, o rei, depois de conceder-lhe licença para ver o marido, passara a meditar sobre o caso de Petko. Mandou buscar o processo. Descobriu peças que lhe fixavam a inocência. Então, desejoso de reparar a injustiça profunda que cometera, ordenou que o pusessem em liberdade imediatamente, lhe devolvessem os bens confiscados e o indenizassem pelos longos anos de prisão imerecida, com um alto cargo na corte. 

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