Amiga raposa convidou amigo corvo para fazerem uma viagem. A raposa convidou o gambá para seu companheiro, e o corvo convidou o caracará. Partiram.
Chegando ao meio dos montes, veio à noite. Foram pedir rancho na casa da amiga onça. A onça andava por fora, atrás de um rebanho de carneiros. E chegou a casa muito tarde, trazendo um grande carneiro morto. Os hóspedes, que se achavam em casa, ficaram com medo.
Disse a raposa:
- Compadre corvo, as coisas não estão boas.
Disse o caracará:
- Ora, esta é boa. Não temos do que temer. Mas você, comadre raposa, é que deve estar em eita, sem ter onde se meta.
A raposa deu uma gargalhada e disse:
- Serei eu pior do que compadre cachorro?
O caracará disse:
- Comigo ninguém pode. Não corro por terra, porque não corto bem o chão. Mas corto o vento. Você, amiga raposa, e compadre gambá, é que tem de se ver hoje. Quando ela pegou compadre carneiro, que é maior do que vocês, quanto mais…
Chegou a hora da ceia. A onça convidou os seus hóspedes para cearem. Só a raposa é que pôde comer, por causa do feitio do prato.
A onça fez mais mingau e espalhou numa pedra, e a raposa tornou a lamber. Depois o corvo disse:
- Comadre onça, eu não acho boa essa moda: quem lambe come, quem pinica com fome fica.
Foram todos dormir. O corvo disse para o caracará:
- Nós não havemos de ficar com fome.
Quando a onça pegou no sono, o corvo agarrou nos filhos da onça e os devorou com o bico. O caracará fez o mesmo. Safaram-se, deixando a raposa e o gambá dormindo.
Quando a onça acordou, procurou os filhos e só viu ossos. Investiu para a raposa, que se escapou e foi ao encontro de seus companheiros de viagem e os encontrou na casa do macaco. A raposa disse:
- Agora é ocasião de me vingar do que vocês me fizeram.
Mas como era hora do jantar, ela esperou. No fim da janta, viu um cachorro, teve medo e se despediu. Foram o corvo e o caracará para casa do galo. E a raposa lá estava, esperando pela ceia.
Chegada a hora, foram todos cear. O galo espalhou milho por toda a casa e disse:
“Venham de bico/ que me despico. / Quem tem focinh0 / Nem um tico.”
A raposa meio desconfiada:
“Façam o que quiser, / Durmam vocês, é que se quer.”
Foram todos dormir. E a raposa foi convidar mais amigas para virem dar cabo de seus inimigos de penas. Deram cabo de todos, só deixando o gambá, por ser muito fedorento.