Literatura do Folclore: As surdas - conto

Havia na Cachoeira do Matapi um homem casado, que tinha três filhas moças. Todos os dias, ele as aconselhava a que não fizessem coisas feitas ou mal feitas. Elas, porém, não lhe davam ouvidos.

Uma vez, ouviu-se um estrondejar para a banda do rio, e todos ficaram sabendo logo que era a Cobra Grande, que andava por ali. O pai das moças disse-lhes:

- Não façam saruá, porque a Cobra Grande pode vir aqui e devorar-nos.

As moças pouco se incomodaram. Pela madrugada, levantaram-se e foram para o rio banhar-se. Acontece, porém, que uma delas estava enluada e, quando as duas estavam brincando na água, apareceu, não se sabe de onde, um moço bonito, que começou a banhar-se também com elas.

As moças nem perguntaram quem era ele, nem nada. Ficaram contentes e continuaram a brincar na água. Não demorou muito, porém, a moça que estava enluada sentiu que aquele moço lhe fazia mal ali mesmo, dentro do rio. Mas não lhe disse nada.

Quando o sol já estava alto, elas saíram da água, e foram para casa. O moço foi com elas. Quando chegaram a casa, o pai delas perguntou-lhes:

- Onde é que vocês se meteram, que eu estava à espera de vocês, para me fazerem manicuera (caldo de mandioca, de “mani”: mani e “cruera”, caldo, sumo)?

- Fomos tomar banho. -  elas lhes disseram. – Encontramos lá este moço e estivemos brincando dentro da água.

O pai das moças olhou o rapaz e, quando lhe pôs os olhos, seu coração já tremeu. Viu logo que esse moço era Maauia (ser misterioso de onde provém todo o mal) e perguntou-lhe:

- De onde é que você veio, moço?

- Eu vim da minha terra procurar mulher para me casar. E, como já encontrei minha mulher, voltarei hoje mesmo.

- E onde está sua mulher?

- É esta moça. - disse-lhe ele, apontando a filha do homem.

- E a quem é que você a pediu para se casar?

- A ninguém. Ela já está fecundada por mim: por isso eu a levarei embora.

Nesse instante, o pai das moças correu, pegou o curabi e disse-lhe:

- Você não levará minha filha daqui. Elas não me ouvem e, por isso, fizeram saruá. - e atirou o curabi no moço.

- É assim que você trata seu genro? - disse-lhe o moço.

As três moças correram, agarraram-se ao moço, dizendo ao pai:

- Pai, não mate o moço à toa.

E, com seus corpos, esconderam o corpo dele. O moço repetiu-lhe:

- É assim que, em sua terra, se costuma fazer ao genro?

O pai das moças estava procurando um jeito de atirar outro curabi no rapaz.

Mas o rapaz fez um “fuuu” comprido. E, no mesmo instante, “guerê, guerê, guerê!”, estrondejou para o lado do rio. A água começou a crescer. O pai disse às suas filhas:

- Vamos, minhas filhas. Vamos embora, senão Maaiua nos devora.

E, agarrando a moça, que já era mulher do rapaz, arrastou-a. Mas, nesse momento, começaram a sair da barriga da moça cobras pequenas que diziam à moça:

- Mãe, queremos comer camarão.

E continuaram a sair outras, muitas outras, até que já era um montão de cobras. E a água já chegara e estava inundando toda a terra. O pai das moças corria para um lado e para outro, sem poder fugir. Voltou para perto das moças e lhes disse:

- Vejam o que vocês fizeram, por não me obedecerem.

O pai da moça procurava subir para cima da casa. Mas as cobras se enrolavam nas pernas dele, puxavam-no e lhe diziam:

- Para onde quer ir, avô? Por que não nos quer bem?

As cobras lhe envolveram o corpo. E a água continuou subindo, até que os cobriu a todos.

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