Uma viúva tinha uma filha muito bonita, muito religiosa, e que todo mundo a via como uma moça muito educada. Certo dia, a viúva resolveu casar a sua filha com um homem rico. E, para isso, fazia o possível.
Na esquina da rua, onde elas duas moravam, havia um mercadinho, que tinha muitos fregueses, e o seu dono era um homem bom, solteiro e cheio de posses. Era lá que a viúva fazia as compras. Cheia de ambição para ver a filha casada com o comerciante, a viúva começou a estudar um meio de fazer com que o homem conhecesse a sua filha e simpatizasse com ela.
Um dia, a viúva ouviu o comerciante dizer que só se casaria com uma moça trabalhadeira e que fiasse muito mais do que todas as moças da cidade. Não deu outra. Num instante, a viúva correu a uma loja da cidade e comprou logo uma porção de linho, para a filha fiar. E, ainda, boatou para muitos, até para o dono do mercadinho, que a sua filha era a melhor fiandeira do mundo.
A moça era muito religiosa. Ela nunca perdia a missa das almas, que acontecia em todas as madrugadas. Lá, ela se encontrava com três velhinhas muito devotas, que sempre a cumprimentavam.
Então, quando a viúva entrou em casa e entregou o linho à filha, dizendo-lhe que ela teria de fiá-lo completamente até a manhã seguinte, a moça caiu num choro grande. E a moça foi se sentar no batente da cozinha, desconsolada da vida. E ela começou a rezar. Foi aí que ela ouviu uma voz a lhe perguntar:
- Por que minha filha está chorando?
Quando a moça levantou os seus bonitos olhos, e viu uma das três velhinhas da missa das almas, respondeu-lhe:
- É porque minha mãe quer que eu fie todo esse linho e o entregue dobrado amanhã de manhã…
- Não se agonie, minha filha. - disse-lhe a velhinha. -Agora, eu lhe peço isto: se você me convidar para o seu casamento e me prometer que, por três vezes, me chamará de “tia”, em voz alta, eu lhe darei uma ajudinha.
A moça num instante lhe prometeu. E a velhinha se despediu da moça e foi embora, porém deixando o monte de linho fiado e pronto.
A viúva, quando achou a tarefa pronta, só faltou morrer de tanta alegria. Bem depressa, correu até o mercadinho, mostrando ao dono as habilidades da filha.
E lhe falou que iria comprar mais uma porção, ainda maior, de linho. Pois aquilo deixou o comerciante tão espantado, por causa do trabalho da moça, que resolveu dar dinheiro à viúva, a fim de ela comprar o linho.
Vendo que as coisas estavam se encaminhando como ela queria, a viúva deu o linho para a filha fiar até a manhã seguinte. De novo, a moça se agoniou muito e foi chorar lá na cozinha. E novamente apareceu uma velhinha, a segunda das três, para lhe propor ajudá-la, contanto que a moça a convidasse para o casamento e a chamasse de “tia”, por três vezes. E, assim, a moça aceitou, e o linho ficou pronto num minuto.
A viúva voltou outra vez correndo até loja do homem rico, mostrando o linho fiado, e ainda se gabando da filha. O comerciante começou, então, a simpatizar muito com aquela moça que fiava tão depressa e era dotada de tamanhas qualidades.
A viúva voltou para casa com uma carga de linho bem maior do que as outras vezes, dando à sua filha para fiar bem rápido. E, como nas duas vezes anteriores, apareceu mais uma velhinha. Era a terceira velhinha, que lhe fez a mesma proposta das duas outras velhinhas: convidá-la para o casamento e chamá-la “tia”, por três vezes. E, dessa maneira, o trabalho foi terminado bem rápido.
Quando o dono do mercadinho viu o linho fiado, pediu à viúva para conhecer a moça. Lá na casa da viúva, ele conversou com a moça e acabou lhe falando sobre se ela queria se casar com ele. E a moça aceitou. E, assim, foi marcado o casamento.
Depois daquele dia, o comerciante mandou preparar a sua casa com todos os arranjos decentes. E encheu uma mesa de fusos, rocas, linhos, tudo para que a mulher se ocupasse durante o santo dia em fiar.
Após o casamento, na hora do jantar, estavam todos reunidos e muito alegres, quando bateram palmas lá fora. A moça foi saber quem era. E entrou uma das três velhinhas da missa das almas. A noiva, toda alegre, dizia-lhe:
- Mas que alegria, minha tia. Entre, entre, minha tia. Sente-se aqui perto de mim, minha tia.
Assim que a velha se sentou na cadeira, chegou a outra velhinha, sendo recebida com a mesma satisfação:- Entre, entre, minha tia. Sente-se aqui, minha tia. A senhora, minha tia, vai jantar com a gente toda daqui.
A terceira velhinha chegou também, e a noiva abraçou-a logo:
- Me dê um abraço, minha tia. Vamos sentar, minha tia. Quero apresentá-la ao meu marido, minha tia.
Depois das três velhinhas já terem chegado, foram todos para o jantar. E o marido e os convidados não tiravam os olhos de cima das três velhas, que eram tão feias, mas tão feias, de fazer qualquer um pensar que elas eram umas verdadeiras bruxas.
Depois do jantar, o marido não se conteve e perguntou por que a primeira era tão corcovada, a segunda com a boca torta e a terceira com os dedos finos e compridos, como patas de aranhas. As velhinhas, então, lhe responderam:
- Eu sou corcunda, disse-lhe a primeira, de tanto fiar linho, pois fico curvada para rodar o fuso.
- Eu fiquei assim, disse-lhe a segunda, com esta boca torta, foi de tanto eriçar os fios de linho quando fiava.
- Já eu, disse-lhe a terceira velhinha, eu fiquei com os dedos assim de tanto puxar e remexer o linho quando fiava.
Ouvindo aquilo, o marido mandou buscar os fusos, rocas, meadas, linhos, e tudo que servisse para fiar. E fez com que queimassem tudo, jurando a Deus que jamais sua mulher haveria de ficar tão feia, parecida com as três tias fiandeiras, por causa do trabalho de fiar.
Depois que tudo aquilo aconteceu, as três velhinhas desapareceram para sempre. E o casal viveu muito feliz.