A raposa ia passeando pelo bosque quando encontrou o esquilo.
- Bom dia, pequeno. Você está bem?
- Vou indo. Mas tenho uma dúvida que me assalta e me atormenta.
- Uma dúvida? Posso ajudar você a dissipá-la? Conte com a minha experiência. Confie em mim.
- Aqui está. Não conheço o lobo. Mas, parece-me que é personagem de importância. Seu nome é pronunciado aqui, no bosque, a todo instante. Dia atrás, perguntei ao cervo: “Você sabe me dar a notícia do famoso lobo?”. Nem posso repetir as palavras do cervo. Que entusiásticas palavras! O lobo deveria ser um prodígio de inteligência, de bondade, de bom senso. O escrínio, em suma, de todas as virtudes. Já ontem, eu vi a lebre. Fiz a ela a mesma pergunta que havia feito ao cervo. E, para quem a ouvisse, ela falou do lobo como de um assassino, de um ladrão, de um traiçoeiro da pior marca. E, ainda, de um ávido de sangue, de um covarde, de um invasor da propriedade alheia, de um desrespeitador dos fracos, de um fujão diante dos fortes. Foram coisas de estarrecer qualquer um. Mas, agora, me diga: quem é que tinha razão? O lobo é um personagem bom, ou mau?
A raposa não lhe deu reposta imediatamente. Primeiro, ela ouviu atentamente a cerva. Em seguida, farejou o ar em todas as direções, olhou para todos os lados. Ao estar certificada de que alguém, ou alguma coisa, não lhe estava por perto, desatou a rir de modo franco:
- Meu amigo, quando você falava com o cervo, o lobo devia estar pelas vizinhanças.
- Eu não o vi.
- Mas o cervo tem olhos agudos, faro vivo e está, sempre, de orelhas atentas. Juro que o cervo pressentiu o lobo nas redondezas. A lebre, por seu turno, deveria ter-se certificado de que o lobo estava longe, muito longe. E que o vento não levaria até ele as suas palavras.
- Me fale com sinceridade. Confesso-lhe que não estou entendendo.
- Pois vou falar bem claro: a verdade, no que tange a uma alta personagem que tenha a força e a prepotência do lobo, só se diz algo quando ele está muito longe. Perto dele, só a lisonja evita surpresas desagradáveis.
- Sendo assim…
- Sendo assim, a lebre é que tinha razão. O cervo estava mentindo para lhe salvar a pele.