Num certo tempo atrás, espalhou-se uma a notícia que ia haver uma festa no céu. E que todas as aves deveriam comparecer a ela. Então as aves começaram a fazer inveja a todos os animais da Terra que não eram capazes de voar.
Mas o sapo foi dizer que ia também à festa. Logo ele, um bicho pesadão e sem saber dar uma carreira. Pois ele mesmo saiu espalhando que tinha sido convidado e que iria sem dúvida nenhuma. Aí os bichos todos só faltaram morrer de tanto rir.
Só que o sapo tinha seu plano. Na véspera, procurou o urubu. Na casa do urubu os dois bateram um papo bom, se divertindo demais. Lá pras tantas, o sapo disse: “Pois é, camarada urubu, quem é coxo parte cedo. E eu tou me indo agora mesmo, porque o caminho é comprido”. O urubu respondeu: “Você vai mesmo à festa no céu?” E o sapo disse: “Se vou? Até lá, sem falta!” Mas, em vez de sair, o sapo deu uma volta, entrou no quarto de dormir do urubu. Vendo a viola do urubu em cima da cama, se meteu todinho dentro dela, se encolhendo.
Mais tarde, o urubu pegou sua viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o céu. Chegando ao céu, o urubu arriou a viola num canto e foi procurar pelas outras aves. Foi aí que o sapo botou um olho de fora e, ao se ver que estava sozinho, deu um pulo e ganhou a rua, todo satisfeito.
Quando viram o sapo no céu pulando todo alegre, logo as aves começaram a lhe perguntar como foi que ele havia chegado à festa. Mas o sapo só fazia conversa mole, sem dizer como. A festa começou, e o sapo tomou parte dela.
Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do mesmo jeito da vinda, o sapo foi se esgueirando, se esgueirando, até correr para o lugar onde o urubu se hospedara. Procurou pela viola do urubu e acomodou-se dentro dela, como tinha feito antes. O sol saiu, acabou-se a festa. E todos os convidados saíram voando, indo cada um para o seu destino. Também o urubu pegou a sua viola e tocou-se no rumo da Terra.
No meio do caminho, quando apareceu uma curva, o sapo se mexeu dentro da viola. O urubu espiou para dentro do instrumento e viu o bicho lá no escuro, todo encolhido feito uma bola. E o urubu disse para o sapo: “Ah, camarada sapo, é assim que você vai à festa no céu?” E, de lá de cima mesmo, emborcou a viola. O sapo despencou-se para baixo que vinha zunindo. Na queda, vinha gritando: “Béu-béu! Se desta eu escapar, nunca mais bodas no céu.” E vendo as serras lá em baixo, o sapo desesperado, gritou mais alto: “Arreda pedra, se não eu te rebento.” Mas, coitado do sapo, bateu em cima das pedras como um jenipapo, espedaçando-se todo. Ficou em pedaços.
Então Nossa Senhora, com pena do sapo, juntou todos os pedaços dele, e o sapo voltou à vida de novo. É por isso que o sapo ainda hoje tem o seu couro todo cheio de remendos.