Uma vez, um homem foi caçar no mato. Quando estava andando por lá, encontrou o cágado, tocando gaita. Escutou, escutou, achou muito bonito. E pediu ao cágado que lhe emprestasse a gaita, dizendo que queria tocá-la para seus filhos ouvirem. E, ainda, lhe prometeu que iria devolvê-la no dia seguinte.
O cágado, com muita boa vontade, emprestou a gaita. Mas o homem se esqueceu. e nunca mais voltou para lhe devolver a gaita.
Um belo dia, depois de passado muito tempo, o homem foi novamente caçar no mato. Quando ia passando perto da casa do cágado, o bicho deu um salto na sua frente e lhe disse:
- Onde está minha gaita? Vamos, quero já a minha gaita para cá.
Assim dizendo, avançou para o homem, ferrou-lhe os dentes num dos dedos do pé. E começou a apertá-lo. O homem botou a boca no mundo:
- Oi, meu filho, traga a gaita do cágado, meu filho!
- Que é, papai? A foice? - perguntou-lhe o menino.
- Não, meu filho, é a gaita do cágado, meu filho!
E o cágado, ferrando no dedo do pé do homem, apertando cada vez mais. E o homem a gritar para o filho, que ele lhe trouxesse a gaita do cágado.
- É o machado, papai?
- É o facão, papai?
- É o chapéu?
Dessa maneira, o menino, que não ouvia bem o que o pai lhe pedia, perguntou-lhe se era uma porção de coisas, enquanto o pobre do homem estava lá no mato, suando no dente do cágado, e respondendo a cada pergunta que o filho lhe fazia:
- Não, meu filho, é a gaita do cágado, meu filho!
Afinal, depois de não ter mais que perguntar ao pai, o menino lhe disse:
- É a gaita do cágado, papai?
Aflito, o homem tornou a gritar mais ainda, com medo de que o menino não entendesse outra vez e começasse a lhe perguntar tudo de novo, enquanto o cágado apertava, apertava, apertava…
- Sim, meu filho, é a gaita do cágado, meu filho!
O menino, então, correu para o lugar onde o pai se achava, levando-lhe a gaita. Só, então, que o cágado soltou o dedo do pé do homem, pegou a gaita e foi-se embora.