A lavandeira tinha dois filhotes. Veio-lhe à mente que suas criaturinhas, tão ingênuas, inespertas, poderiam cair em qualquer esparrela. Desde esse dia, não teve paz. Pensa e torna a pensar. Iluminou-a uma ideia. Tomou, ajudando-se com as patinhas e com o bico, um dos petizes e levou-o para a casa subterrânea da toupeira.
- Amiga minha, hospeda este meu rebento. Na tua residência, não poderão penetrar os caçadores violentos e seus engenhos mortíferos, nem os moleques impiedosos. Além do mais, aqui está sempre quente. O vento não sopra, não há perigo da água das chuvas.
A toupeira lhe foi muito gentil:
- Com muito prazer. A mim me agrada ter um companheiro. Cuidarei de teu filho como se meu fosse.
A lavandeira foi-se embora com o coração bem mais tranquilo. A uma outra toupeira, sua conhecida, confiou o segundo filho. Mas este era de temperamento inquieto. Não se conformando em ter de viver fechado num subterrâneo, tratou de fugir. Mamãe lavandeira procurou-o por toda parte: na margem da torrente, no chorão que fica por cima do lago, no prado, no pomar dos monges. Inspecionou os vinhedos da colina, o bosque. Mas, em lugar nenhum, conseguiu dar com ele.
A pobrezinha voltou para a sua moita, com o coração roxo de mágoa. O tempo foi-se passando e, na sua alma, se sucediam o desespero e a esperança. Até que, um dia, depois de um temporal furioso, encontrou-o caído ao pé de uma árvore.
- Ó filho, meu filho!
A ave, com as patas para cima, os olhos vidrados, parecia morta. Mas não.
Reconheceu a mãe, sacudiu-se, falou:
- Culpa do granizo, se eu morrer. Apanhou-me desprevenido. Mal tive tempo de refugiar-me nessa árvore. E seus galhos se quebraram com a força do temporal. Uma bola do granizo na cabeça, “pac!”, e assim me vou. Sinto, pois, apreciava a vida. Tão linda, tão deliciosa de ser vivida. E a liberdade pelos espaços azuis, pelos campos sem fim…
Mamãe lavandeira procurou confortá-lo. Tentou transmitir-lhe algum calor. Mas tudo foi inútil. A avezinha se inteiriçou, as patas se tornaram rígidas, ao passo que o pescoço amolecia, os olhos se lhe fecharam, a cabeça tombou de um lado.
Mamãe lavandeira, para consolar-se um pouco, foi visitar o outro filho. Mas nova e dolorosa surpresa a esperava. A outra criatura também agonizava.
- Sofria de saudade - explicou-lhe a toupeira. - Queria o ar livre, o céu, a luz, a liberdade. Todos os meus cuidados foram inúteis.
A mãe teve tempo ainda de lhe recolher as últimas palavras:
- Não sinto deixar a vida, pois não a apreciava. É tão melancólica a vida, tão pesada, escura, uma prisão…
E fechou os olhos para sempre.