Havia um homem viúvo que tinha duas filhas pequenas, e casou-se pela segunda vez. A mulher era muito má para as meninas; mandava-as como escravas fazer todo o serviço e dava-lhes muito.
Perto de casa, havia uma mangueira que estava dando mangas, e a madrasta mandava as enteadas botar sentido às mangas por causa dos passarinhos.
Ali, passavam as crianças dias inteiros, espantando-os e cantando:
“Xô, xô passarinho, / aí não toques o biquinho, / vai-te embora pra teu ninho…”
Quando acontecia aparecer qualquer manga picada, a madrasta castigava as meninas. assim, foram passando sempre maltratadas. Quando foi uma vez, o pai das meninas fez uma viagem, e a mulher mandou-as enterrar vivas. Quando o homem chegou, a mulher lhe disse que as suas filhas tinham caído doentes e lhe tinham dado grande trabalho, e tomado muitas mezinhas, mas tinham morrido. O pai ficou muito desgostoso.
Aconteceu que nas covas das duas meninas, e dos cabelos delas, nasceu um capinzal muito verde e bonito, e quando dava vento, o capinzal dizia:
“Xó, xô, passarinho, / aí não toque o biquinho, / vai-te embora pra teu ninho…”
Andando o capineiro da casa a cortar capim para os cavalos, deu com aquele capinzal muito bonito, mas teve medo de o cortar, por ouvir aquelas palavras.
Correndo, foi contar ao senhor.
O senhor não o quis acreditar, e mandou-o cortar aquele mesmo capim, porque estava muito grande e verde. O negro foi cortar o capim, e quando meteu a foice, ouviu aquela voz sair debaixo da terra cantando:
“Capineiro de meu pai, / não me cortes os cabelos; / minha mãe me penteava, /minha madrasta me enterrou /pela manga da mangueira / que o passarinho picou…”
O negro que ouviu isso, correu para casa assombrado, e foi contar ao senhor, que o não quis acreditar, até que o negro instou tanto que ele mesmo veio, e mandando o negro meter a foice, também ouviu a cantiga do fundo da terra. Então mandou cavar naquele lugar e encontrou as suas duas filhas ainda vivas por milagre de Nossa Senhora, que era madrinha delas. Quando chegaram em casa, acharam a mulher morta por castigo.