Literatura do Folclore: A madrasta (2) - conto


Era uma vez, um viúvo que tinha um filho e uma filha. Ao lado da casa em que eles moravam, vivia uma vizinha, que se dava muito bem com o homem. E aí começou a agradar as crianças. O homem, ao ver aquilo, achando que ela seria uma boa mãe para os seus filhos, e que eles pareciam gostar muito dela, pediu-a em casamento. Casaram-se. Mas, assim que viu segura com marido, a mulher começou a judiar das crianças. Maltratava os pobrezinhos tanto que até dava pena.

Todos os dias, o menino ia caçar para ele e para a irmã comerem, pois a madrasta lhes dava pouquíssima comida. E, ainda, a madrasta fazia os dois irmãos trabalharem como verdadeiros escravos. Além de tudo isso, a madrasta, não ficando satisfeita com as maldades que fazia, começou a pensar num jeito de matar o menino e a menina.

Um belo dia, a mulher malvada pôs veneno na comida dos enteados. Mas a menina havia percebido o que a madrasta fizera. Então, ficou muito aflita, andando para dentro e para fora de casa. Ela ficou imaginando um modo de avisar o irmão, quando ele voltasse do mato, de que a comida estava envenenada. Mas tinha de fazer aquilo sem que a madrasta percebesse. Pensou, pensou. Até que, na hora do irmão chegar, a menina foi para a beira da casa e começou a cantar:

“Mamede, mais o Tatino, / botou angá no come, / pra quando Tatino come, /o angá matar Tatino”.

A madrastra não compreendeu a cantiga. Mas o menino, entendendo o que a irmã quis dizer,  respondeu-lhe:

“Ôi, senhora maninha, /ôi, tindim, tindão”.

E, ao chegar a casa, não quis a comida que a madrasta guardara. E mandou a irmã preparar a caça que trouxera para os dois jantarem. A madrasta furiosa ao ver que os enteados não queriam comer a comida envenenada, que preparara. Aí, ela disse para si mesma: “Deixa estar. Vocês não quiseram comer a janta que eu guardei? Amanhã vou ensinar vocês dois.”.

No dia seguinte, disfarçadamente, a menina ficou por ali, rodeando. E viu a madrasta pôr veneno no pote de água. Quando foi chegando a hora do irmão voltar para casa, pôs-se a cantar:

“Mamede, mais o Tatino, / botou angá no bebe, / pra quando Tatino bebe, /o angá matar Tatino”.

O menino lhe respondeu como no dia anterior. E, ao chegar a casa, pegou o pote, jogou água fora e foi buscar outra na fonte. Aí, então, a madrasta ficou furiosa. No dia seguinte, pôs veneno na cama do enteado.

A menina, que havia visto tudo, começou a cantar na hora do irmão chegar:

“Mamede, mais o Tatino, / botou angá no dorme, / pra quando Tatino dorme, /o angá matar Tatino”.

O rapazinho, então, dormiu no chão, naquela noite. Mas, não tendo onde botar o veneno, a madrasta colocou-o no cano da espingarda, para o menino morrer, quando fosse soprá-la, no momento em que iria carregá-la. Mas a irmã avisou-o:

“Mamede, mais o Tatino, / botou angá no espirra, / pra quando Tatino espirra, / o angá matar Tatino”.

O menino foi caçar. E, antes de carregar a espingarda, limpou bem o cano, antes de soprar, para ver se o cano estava desentupido.

Finalmente, a mulher má, vendo que não conseguia mesmo envenenar o enteado, começou a dar em cima do marido, para que ele matasse o pobrezinho. Mas, quando ela chegava com essas conversas, o homem lhe respondia:

- Mas, mulher, como e por que hei de matar meu filho, se ele nunca me fez nada de mal? Deixe disso.

Mas, tanto a malvada deu em cima do marido que, um dia, o homem saiu de casa bem cedinho, vestido num couro de onça. Foi para o mato, subiu numa árvore. E, de lá de cima da árvore, ele ficou esperando que o filho passasse por ali, disposto a matá-lo.

Mas, sempre atenta, a menina percebera a manobra toda. E, antes do irmão sair para caçar naquele dia, pôs-se a cantar como sempre fazia, para preveni-lo do perigo:

“Mamede, mais o Tatino, / botou couro de gongonça, / pra quando Tatino passa, / gongonça matar Tatino”.

O menino, coitado, naquela manhã não foi pelo caminho de costume, evitando passar pelo lugar em que seu pai estava de tocaia para matá-lo. Andou por longe, caçou seus bichinhos para comerem e, em seguida, ele fez um enorme rodeio, para voltar para casa. E, ao chegar, depois que os dois acabaram de jantar, ele disse para a sua irmã:

- Junte todos os nossos cacarecos, faça uma trouxa e vamo-nos embora daqui, senão nosso pai, quando chegar, vai nos matar.

A menina, mais que depressa, entrou no quarto, arrumou tudo que era deles. E os dois irmãos foram-se embora, pelo mundo a fora, sem destino.

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