Viveu, noutros tempos, uma moça que tinha como trabalho ir buscar o gado no bosque. Um dia, não o encontrando, perdeu-se. A coitada, depois de muito caminhar, chegou a uma grande montanha, onde se viam muitas portas.
Aí, a moça resolveu entrar por uma delas. Lá dentro, ela viu uma mesa posta, com deliciosas iguarias. Havia até um leito e, nele, uma grande serpente estava deitada. A serpente, então, lhe disse:
- Sente-se, minha moça, se assim desejar. Ou, então, deite-se aqui comigo.
A moça não lhe obedeceu. Daí a pouco, falou-lhe a serpente:
- Virá gente convidá-la para dançar. Não vá. Preste atenção no que eu estou lhe dizendo.
Realmente, diversas pessoas apareceram e quiseram dançar com a moça. Mas ela se recusou. Então, começaram a comer e beber. E a moça, saindo da montanha, conseguiu voltar para casa.
Na manhã seguinte, a moça resolveu se dirigir de novo para o bosque, à procura do gado. Mas não conseguiu encontrá-lo. E, mais uma vez, se perdeu. E, mais uma vez, foi ter à mesma montanha.
Entrou pela mesma porta de antes. E tudo se lhe deparou como na primeira vez. Uma mesa posta, e o leito com a serpente estirada, que lhe repetiu:
- Sente-se, minha moça, se assim desejar. Ou, então, coma. Se não quiser, venha deitar-se comigo. Mas é se desejar. Preste atenção ao que lhe digo: virão pessoas convidá-la para dançar. Mas não lhe obedeça.
Mal a serpente havia terminado de falar, surgiram várias pessoas que começaram a dançar, comer e beber. A moça, no entanto, não se uniu às pessoas. Pelo contrário, saiu da montanha e regressou ao seu lar.
No terceiro dia, a moça foi mais uma vez para o bosque. E tudo aconteceu como nas vezes anteriores. A serpente tornou a convidá-la para comer e beber. E, dessa vez, a moça o fez, com grande apetite. Em seguida, a serpente lhe pediu-lhe que ela se deitasse ao seu lado. E a lhe moça obedeceu. E a serpente disse-lhe:
- Abrace-me.
A moça abraçou-a.
- Beije-me. Mas, se estiver com medo, coloque o seu avental entre nós.
A moça lhe obedeceu. E, no mesmo instante, a serpente se transformou num formoso jovem. Ou melhor, num príncipe que, em virtude de um feitiço, havia adquirido aquela repelente forma. Assim, a coragem da moça o libertou.
Após isso, os dois se afastaram bem rápido daquela montanha. E, nunca mais, ouviu-se alguém falar deles.