Era uma vez, um homem que entendia a linguagem dos bichos. Ele gostava de passear com a sua mulher pelo campo.
Certa vez, ele ouviu dois cavalos conversando. E, naquele instante, o homem deu uma risada bem alta. E, a mulher, surpresa, perguntou-lhe porque ele riu daquela maneira. Aí, o homem lhe respondeu:
- Foi por causa da conversa daqueles dois cavalos, mulher.
Então, ela começou a insistir com o marido para que ele lhe explicasse a conversa dos dois animais brutos.
- Eu bem podia contar a você, minha mulher, respondeu-lhe orgulhoso o homem, o que foi que os dois cavalos conversaram. Mas, na mesma hora que eu acabar de contar, eu morrerei.
- Como é que é, marido?… - e, em seguida insistiu a mulher para o marido: - Mas eu quero saber. Conta pra mim.
- Então você quer que eu morra? - perguntou-lhe o marido à esposa.
- Não existe isso não, marido. Isso é superstição. Conte, conte. Você tem de me contar o que os dois cavalos conversaram.
E, assim, a discussão dos dois durou muitos dias. Até que o pobre marido, não aguentando a mulher insistir para ele lhe contar a conversa dos dois cavalos, terminou caindo na conversa da esposa e convencia a mulher e começou a lhe contar:
- Olha, olha, mulher sem coração. - falou ele de modo triste. - Eu vou contar a você a conversa dos cavalos. Mas, primeiro, é melhor você aprontar tudo para o meu enterro. (Ele disse essa conversa, pensando que a mulher iria se arrepender).
Sem se arrepender, a mulher mandou comprar o caixão e as velas. E o marido, sem saber mais o que fazer, sentou-se na rede muito, muito triste.
O galo subiu no caixão, bateu as asas e cantou. A cachorrinha, que estava num canto, pensativa, falou ao galo:
- Galo, coração de pedra. Você tem coragem de cantar na despedida de nosso dono?
- Canto e mais que canto, respondeu-lhe o galo. - Ele vai morrer, porque é um moleirão e se entregou à mulher. Porque ele não faz como eu que, no terreiro tomo conta de vinte galinhas?
O homem prestou atenção na conversa do galo. E por causa disso, criou uma grande coragem. Então, mandou o empregado dele trocar o caixão e as velas por um chicote. E, depois, pegou o chicote e perguntou a mulher:
- Você, mulher, ainda quer saber a conversa dos cavalos?
- Ora se não quero. - respondeu-lhe afoita. - Eu quero, como não?
- Pois foi assim. - bradou o homem, indo em direção da mulher, com o chicote em punho.
E o pau cantou. Foi lepte, lepte, lepte, nas costas da mulher, que dava cada grito que a rua toda ouvia o desespero da mulher. Dali a pouco, o homem parou de bater um pouco na esposa.
- E você, mulher, perguntou-lhe o marido, você ainda quer saber a conversa dos dois cavalos?
- Quero sim. - respondeu-lhe à mulher, não se dando por vencida a mulher.
Então, o marido continuou a surra, até que a curiosa mulher, sem aguentar de dores, ajoelhou-se e pôs as mãos postas em direção ao marido, murmurando entre soluços:
- Pelo amor de Deus. Pelo amor de Deus. Chega, chega, maridinho do meu coração. Não quero mais saber da conversa dos cavalos. Nunca mais, nunca mais.