Era uma vez um homem muito prudente e muito cuidadoso consigo mesmo. Sempre queria ser o certo. Um dia, casou-se com uma mulherzinha muito divertida e também faladeira. Num dia de domingo, depois do almoço, ele estava sentado debaixo de uma árvore, tomando um ar fresquinho, quando a sua mulher veio para junto dele, querendo lhe catar cafuné em sua cabeça.
O marido, então, colocou a sua cabeça no colo da sua esposa. Ela dando cafuné pra cá, cafuné pra lá, terminou fazendo o marido cochilar. Mas, de repente, uma coisa estranha passou correndo pelo couro cabeludo do marido.
Bem depressa, a mulher ficou procurando o que era aquilo na cabeça do seu marido. Terminou ela encontrando um piolho. E ela gritou muito assustada: “Um piolho. Um piolho. Acorda, marido, pois tem um piolho correndo em tua cabeça”.
O homem acordou dum pulo só, assustado. E logo viu o piolho achatado entre os polegares da esposa. Ele ficou todo encabulado, mas nada disse. Mas a mulher não parou mais de falar durante a tarde.
A noite chegou e ela continuava falando, falando do piolho na cabeça do marido. Mas o homem calado estava, calado ficou. Até durante a noite, volta e meia a mulher se lembrava: “Marido, o piolho. Marido, o piolho”.
No outro dia, a esposa foi bem cedo à feira para fazer as compras. A mulher dele não parava de contar a todos os conhecidos sobre o piolho que ela havia achado na cabeça do seu marido.
O marido ficou muito aborrecido. Continuou sem dizer nada. Mas entrava dia, saía dia, e a conversa da mulher faladeira era como cantiga de grilo, a mesma coisa: que havia achado um piolho na cabeça do marido.
Num certo dia, o marido ficou muito furioso e pegou uma mordaça de cachorro e botou à força na boca da esposa. Ela se sentiu sufocada com a mordaça, mas daquela vez teve medo de protestar e se conservou em silêncio. E o marido achou que tinha terminado o converseiro da sua esposa. Mas a sua alegria durou por pouco tempo porque a mulher, em qualquer lugar onde ela se encontrasse, não perdia tempo quando alguém olhava pra ela. A mulher esfregava a unha do polegar direito na unha do polegar esquerdo, como se ela estivesse matando um piolho. E, em seguida, ela apontava para a cabeça do marido.
Desesperado com aquilo, o marido levou a esposa para a beira de um rio muito fundo. Amarrou os pés dela numa pedra e deu um empurrão. Sua mulher caiu na água e começou a se debater, procurando a todo custo se salvar. Mas, quando ela percebeu as pessoas que foram em seu socorro, ela suspendeu os braços acima da cabeça e fez o gesto de esfregar as unhas dos polegares como se matasse um piolho. E cada vez que fazia o gesto foi se afogando, se afogando, sem deixar de fazer o gesto de matar um piolho.
Depois da sua mulher morrer afogada no rio, o homem retornou para casa dele, achando de ter se livrado da vergonha que havia passado. Só que, no dia seguinte, quando ele foi todo satisfeito à feira, não se escapou do falatório do povo, que diziam que ele era o marido da mulher do piolho. E daquele dia em diante ele ficou conhecido por todo mundo como o marido da mulher do piolho.