Uma vez, havia uma mulher tão sovina, mas tão sovina, que parecia ter morrido sapo nas unhas dela, como dizem o povo por aí. Pois bem, a mulher tinha um gato e dois cachorros, que andavam com a barriga grudada nas costas de tanta fome. A mulher miserável lhes dava apenas uma migalha de comida.
Enfurecida por causa da revolta dos pobres bichos, a mulher gritou:
- Arre, diabos. Se vocês querem comer cuscuz, pois venham pilhar milho como eu estou fazendo.
Depois do milho já está reduzido a fubá, a miserável parou de pilar. E preparou o cuscuz. E botou o cuscuz no fogo, para cozinhar. Em seguida, pegou um pote e foi até a fonte buscar água.
Mas, quando vinha de volta para casa, ela ouviu um barulho em sua casa.
Havia alguém, em sua casa, batendo no pilão: pei pei pei.
- Ora essa, ora essa. Quem está fazendo fubá lá em casa? - pensou ela. E apressou mais o passo.
Mas, quando a mulher chegou ao terreiro e olhou para dentro de casa, ficou com os cabelos todinhos arrepiados: eram os dois cachorros, cada um sentado num banquinho e pilavam o milho. No meio da sala, o seu gato estava com o rabinho esticado, aparando o fubá num cesto.
Ao presenciar aquela cena inédita, a mulher, assustada, jogou o pote ao chão e saiu como uma doida pelo tempo. Foi em busca do seu marido, que estava trabalhando lá na roça. E, quando lá chegou, começou a falar aos gritos que, de tanta agonia, mal acabou de falar, teve um ataque e caiu por terra como se tivesse morrido.
O homem saiu depressa, correndo para casa, deixando a sua mulher lá deitada. Ele achava que ela havia visto uma visagem. Só que, quando lá ele chegou, deparou-se com o gato e os cachorros deitados no terreiro, dormindo, com as barrigas cheias, parecendo que iriam rachá-las. E teve a certeza de que eles haviam comido todos os cuscuzes feitos. E, com essa, a mulher sovina nunca mais deixou os pobres bichinhos com fome.