Certa vez, uma mulher tinha uma vizinha, com a qual ela se dava muito bem. Um belo dia, ela mandou o filho à casa da vizinha, para lhe pedir um tição de fogo.
Ao chegar o menino lá, ficou muito admirado, ao ver um panelão enorme de mingau, fervendo no fogão. Então, como ele era muito curioso, disse para si mesmo:
- Mas, como a vizinha mora sozinha, eu quero ver o que ela vai fazer com essa panela de mingau.
Escondeu-se no mato e ficou bem quietinho espiando para a direção da mulher. Passado algum tempo, a mulher tirou a panela do fogo. Foi até uma touceira de bananeiras, na beira de sua casa. E lá, ela apanhou uma porção de folhas. Depois, estendeu-as no chão da cozinha e espalhou todo aquele mingau em cima delas. Aí, em seguida, começou a andar em torno delas, sacudindo-se toda, largando-se aos pedaços. E a mulher largou suas mãos, seus braços, suas pernas, seus pés, seus peitos, seus olhos, suas orelhas, sua cabeça, enfim tudo dela. E toca aqueles pedaços todos de gente a comerem mingau.
Ao ver aquela coisa assustadora, o menino ficou mais do que horrorizado. E ele saiu correndo desesperado, gritando:
- Acuda, mamãe. Acuda, mamãe. Eu… eu já vi braço, já vi perna, já vi cabeça já vi tudo da nossa vizinha, comendo mingau.
Ao ouvir o alarido do menino, a feiticeira, mais que depressa, foi-se juntando toda. E saiu correndo atrás do menino. Quando já estava quase a pegá-lo, o menino subiu a árvore. A mulher, então, gritou:
- Desce, pau.
A árvore começou a ficar pequena, pequena, pequena… Quando a mulher estava quase agarrando o menino, ele gritou:
- Sobe pau.
E a árvore começou a crescer, a crescer, de novo. E, assim, ficaram os dois: sobe pau, desce pau. Afinal, vendo que não sairiam mais daquilo, a feiticeira chamou um sapo, para derrubar o menino. Veio, então, aquele cururuzão enorme, que abraçou a árvore com toda força. E começou a dizer: “Pelo sapo pão, / paredão, paredão”. E a árvore começou a engrossar e a ficar baixa. E, quando o menino viu que estava pertinho do chão gritou:
- Sobe pau.
Lá se foi a árvore afinando e, de novo, crescendo. A feiticeira chamou, dessa vez, uma cobra. Imediatamente, a cobra se enroscou na árvore e começou a dizer: “Gaxin, gaxin, / ganin, ganim”. E árvore foi ficando fininha, fininha, e foi vergando. E, quando estava outra vez pertinho do chão, o menino gritou :
- Sobe pau.
Lá se foi a árvore desenvergando e engrossando de novo. Aí, a mulher chamou uma lagartixa. E a lagartixa foi logo passando o rabo em redor da árvore e começou: “Xere-rengue, / rengue, rengue. E, no lugar onde estava enrolado o rabo da lagartixa, a árvore foi-se cortando. E começou a aparecer um sulco que se ia aprofundando cada vez mais.
Foi aí que a mãe do menino, ouvindo aquele rebuliço todo, e aquela gritaria, saiu com outras pessoas, para verem o que estava havendo. E, ao chegar lá, compreenderam o que estava acontecendo. Então, aquela gente toda que havia acompanhado a mãe do menino meteu o cacete no sapo, na cobra e na lagartixa, matando-os todo bem depressa. E, sem esperar por mais nada, a mulher feiticeira correu mais que depressa e nunca mais ninguém a viu por aquelas bandas.