Um estudante e um padre viajavam pelo sertão, tendo como bagageiro um caboclo. Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra. Não sabendo como dividi-lo, mesmo porque chegaria um pequenino pedaço para cada um, o padre resolveu que todos dormissem, e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito.
Pensando engabelar todos com os seus recursos oratórios, mesmo assim todos aceitaram e foram dormir. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.
Pela manhã, os três se sentaram à mesa, para tomarem café. E cada qual teve de contar o seu sonho. O frade disse ter sonhado com a escada de Jacó. Descreveu-a brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para o céu.
O estudante, então, narrou que sonhara já dentro do céu, à espera do padre que subia.
O caboclo sorriu e falou:
- Eu sonhei que vi seu padre subindo a escada, seu doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava na terra e gritava: “Seu doutor, seu padre, o queijo. Vosmincês esqueceram o queijo”. Então, vosmincês respondiam de longe, do céu: “Come o queijo, caboclo. Come o queijo, caboclo. Nós estamos no céu, não queremos queijo”. Aí o meu sonho foi tão forte que eu pensei que era de verdade. Aí eu me levantei-me, enquanto vosmincês dormiam, e eu comi todim o queijo.