Uma vez houve três dias de festa no céu: todos os bichos lá foram; mas nos dois primeiros dias o cágado não pôde ir, por andar muito devagar. Quando os outros vinham de volta, ele ia no meio do caminho. No último dia, mostrando ele grande vontade de ir, a garça se ofereceu para levá-lo nas costas. O cágado aceitou e montou-se; mas a malvada ia sempre perguntando se ele via terra, e quando o cágado disse que não avistava mais a terra, ela o largou no ar, e o pobre veio rolando e dizendo:
“Léu, léu, léu, / se eu desta escapar, / nunca mais bodas ao céu...”
E também: “Arredem-se, pedras, paus, senão vos quebrareis.” As pedras e paus se afastaram, e ele caiu; porém todo arrebentado. Deus teve pena e juntou os pedacinhos e deu-lhe de novo a vida em paga da grande vontade que ele teve de ir ao céu. Por isso é que o cágado tem o casco em forma de remendos.