O cágado tinha uma gaita. Ele tocava essa sua gaita com grande admiração de todos os outros animais. Mas o jacaré tinha muita inveja dele. Uma vez, ele foi esperar o cágado no lugar em que esse animal costumava ir beber água. E se pôs do lado de fora da fonte, deitado. Quando o cágado chegou, saudou-o, dizendo:
- Oh, amigo jacaré, como vai?
- Estou apanhando sol, amigo cágado.
O cágado bebeu sua água e se pôs a tocar a gaita. E o jacaré disse:
- Amigo cágado, me empresta essa gaita para eu experimentá-la.
O cágado deu. O jacaré pulou com ela dentro da água e se foi embora. O cágado ficou muito zangado e se foi embora também.
Passados uns dias, o cágado foi a um cortiço. Lá, ele engoliu muitas abelhas. E se foi pôr no lugar onde o jacaré costumava apanhar sol. Escondeu-se nas folhas com o rabo para cima. Labreou o traseiro bem de mel e, de vez em quando, largava uma abelha: “zum”. O jacaré, vendo aquilo, supôs que seria algum cortiço. E meteu o dedo. O cágado apertou-o e disse:
- Só o largo quando me der conta da minha gaita.
E foi arrochando cada vez mais. O jacaré abriu a boca no mundo e se pôs a gritar:
"Ó Gonçalo, / meu filho mais velho, /a gaita do cágado... / tango-lê-rê... / a gaita do cágado... / tango-lê-rê..."
O rapaz de lá ouvia mal e dizia:
- O quê, meu pai?... É a camisa?
O jacaré, vexado, gritava com mais força:
"Não, Gonçalo, / meu filho mais velho, / a gaita do cágado... / tango-lê-rê... / a gaita do cágado... / tango-lê-rê..."
O Gonçalo:
- O quê, meu pai? As calças?
O jacaré tornava a repetir a cantilena. E, só depois de muita maçada, quando o dedo do jacaré já estava tora não tora, é que o Gonçalo veio com a gaita, que o jacaré deu ao cágado. Só depois da entrega, o cágado lhe largou o dedo.