Literatura do Folclore: O coelho e o aluá - conto

Contam que, certa vez, o coelho, querendo fazer uma roça, saiu pedindo dinheiro emprestado para os amigos, dizendo-lhes:

- Olhe, tal dia vão lá em casa, que eu lhes pago.

Desse modo, sempre dando o mesmo dia para todos, foi à casa do galo, da raposa, do cachorro, da onça e do homem.

O coelho não tinha um tostão de seu, mas não se incomodou. Quando chegou o dia em que marcara para os pagamentos, fez uma boa panela de aluá, colocou-a no meio da sala e ficou muito lampeiro, passeando de cá para lá, esperando os credores. Lá pelas tantas chegou o galo, e o coelho foi logo lhe dizendo:

- Oh, compadre galo. Bom dia. Entre. Como tem passado?

Conversa vai, conversa vem, como está, como não está, por fim, o coelho lhe perguntou:

Compadre galo, você aceita um pouco de aluá?

- Aceito sim. Obrigado, compadre. O coelho, então, deu-lhe uma caneca bem cheia. O galo, assim que acabou de beber, deu um estalo com a língua e lhe disse:

- Sim senhor, compadre coelho. Que aluá excelente.

Justamente, neste momento, bateram à porta. O coelho espiou pelo buraco da fechaduea e lhe disse:

- Chiii, compadre galo, é a raposa.

- Esconda-me, compadre coelho. Esconda-me, pelo amor de Deus. - disse-lhe o galo aflito.

- Enfie-se ali dentro daquele cesto. - avisou a ele o coelho, já tratando de abrir a porta.

A raposa foi logo entrando:

- Olá, compadre coelho. Bom dia.

- Bom dia, compadre raposa. Entre, comadre. Como tem passado?

A raposa se sentou. Os dois começaram a conversar. Dali a apouco, o coelho lhe perguntou:

- Comadre raposa, aceita um pouco de aluá?

- Aceito sim, compadre coelho. Obrigada.

O coelho serviu-lhe uma caneca bem cheia. Quando acabou de beber, a raposa deu um estalo com a língua, dizendo-lhe:

- Sim senhor, compadre coelho. Que aluá excelente.

- Ora essa, comentou o coelho. - Foi o que me disse o compadre galo, agorinha mesmo.

- Quê? O galo está aqui? - saltou mais que depressa a raposa.

- Esteve, mas já foi embora.  - respondeu-lhe o coelho. Mas acrescentou baixinho, apontando para o cesto:

- Ele está ali...está ali...

A raposa pulou no cesto e comeu o galo. Nisso, bateram à porta. O coelho espiou pelo buraco da fechadura e lhe disse:

- Chii, comadre raposa. - É o cachorro.

- Esconda-me, compadre coelho. Esconda-me. - pediu horrorizada a raposa.

- Se enfie no cesto. - mandou o coelho, já abrindo a porta.

- Oh, compadre coelho. Bom dia.

- Olá, compadre cachorro. Bom dia. Como tem passado?

Depois de conversarem um pouco, o coelho lhe perguntou:

- Compadre cachorro, aceita um pouco de aluá?

- Aceito sim, compadre coelho.

O coelho serviu-lhe uma caneca bem cheia. Quando acabou de beber, o cachorro estalou a língua lhe dizendo:

- Sim senhor, compadre coelho. Que aluá excelente.

- Engraçado, a comadre raposa disse a mesma coisa, agorinha mesmo.

- Quê! Como é que é, compadre coelho. A raposa está por aqui?  - saltou o cachorro.

- Esteve, mas já foi embora. - respondeu o coelho, apontando para o cesto e murmurando baixinho - Está ali... está ali...

O cachorro foi devearinho até o cesto e nhoc!. Comeu a raposa. Nesse momento, bateram á porta. O coelho espiou e exclamou para o cachorro:

 -Chiii,  compadre cachorro. Sabe quem esta aí? É a comadre onça.

- Esconda-me por favor. Esconda-me. - choramingou o cachorro.

- Enfie-se no cesto. - respondeu-lhe o cachorro.  E o coelho correu para abrir a porta.

- Olá, compadre coelho. Bom dia.

- Bom dia, comadre onça. Entre...entre...

- Como tem passado?

Conversaram, conversaram, até que o coelho perguntou a onça:

- Comadre onça, aceita uma caneca de aluá?

- Aceito sim, compadre.

O coelho deu-lhe um canecão bem cheio, e a onça bebeu-o de uma vez. Quando acabou, estalou a língua e elogiou:

- Sim, senhor compadre coelho, que aluá excelente.

- É verdade. Agorinha mesmo, o compadre cachorro, me disse a mesma coisa.

- Que está dizendo? - perguntou-lhe  logo a onça, arreganhando a dentuça e pulando no meio da sala. - O cachorro está aqui?

- Esteve, mas já foi embora. - respondeu o coelho, acrescentando baixinho e apontando para o cesto. - Está ali...está ali...

A onça não quis saber de mais nada. Pulou no cesto e liquidou com o cachorro, num instante. Nesse momento, bateram à porta. E o coelho foi espiar quem era.

- Chiii, comadre onça, é o bicho homem.

- Ai, comadre coelho. Onde é que eu me escondo? - assustou-se a onça.

- Pule para cima daquele jirau.

A onça, como um relâmpago, pulou para cima do jirau. E ficou lá sem se mexer.

– Olá, compadre coelho, bom dia.

- Bom dia, compadre homem. Entre. Como tem passado?

Depois de darem uma prosa muito grande, o coelho ofereceu-lhe uma caneca de aluá. O homem bebeu-o e saboreou-o dizendo-lhe:

- Sim senhor, compadre coelho, que aluá excelente.

- É verdade. A comadre onça acabou de me dizer a mesma coisa, agora mesmo.

O homem ficou louco de raiva e lhe perguntou:

- Quê? A onça anda por aqui?

- Andou, mas cabou de sair, compadre homem. Foi embora. – e, bem baixinho, apontando para o jirau, disse-lhe: - Está ali...está ali...

O homem não esperou mais. Levou a espingarda ao rosto e fez pontaria. E pum! - matou a onça. depois disse para o coelho:

- Ufa! Graças a Deus, essa danada não me vai mais matar a minha criação.

 E ficou tão contente por ter matado a onça que nem quis cobrar o dinheiro que o coelho lhe devia.

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