Literatura do Folclore: O compadre da Morte - conto


Num certo tempo bem muito atrás, um homem estava no alpendre de sua casa. De repente, ele avistou, no quintal, uma senhora com uma foice na mão, vestida de preto, dos pés à cabeça. Quando ele perguntou aonde ela ia, a mulher, que ela era  a Morte. Disse-lhe que estava indo buscar um sujeito que estava com os minutos vencidos. Como o homem do alpendre tinha muitos filhos, pediu à Morte para batizar o mais novo, que ainda era pagão. Feito isso, a comadre lhe ensinou um meio de ganhar dinheiro, fazendo olhadas em doentes: se ela estivesse aos pés da cama, o doente escaparia. Mas, por outro lado, se ela estivesse na cabeceira, a família já podia encomendar o caixão.

Com a ajuda da comadre Morte, o homem ganhou muito dinheiro. Mas aconteceu, de um dia, uma senhora, que era muito rica, caiu doente. Quando ele foi vê-la, ela já estava nas últimas. E a família, desesperada, oferecia uma grande soma de dinheiro para quem a curasse. Foi aí que o homem, muito doido por dinheiro, foi fazer a olhada. Mas, quando entrou no quarto, viu a comadre na cabeceira, indicando-lhe que não havia mais nada a fazer.

Acontece que o danado do homem achou de virar a cama ao contrário, e a comadre foi para os pés. A moribunda ganhou novo alento, e o homem embolsou enorme quantia de dinheiro. E aquela sua má ação deixou a comadre se explodir de raiva.

Não passou muito tempo. A Morte foi visitar o compadre. Lá chegando, comunicou-lhe que a hora dele havia chegado. O homem implorou tanto para que a comadre o deixasse viver mais um pouco. Até que conseguiu dela a promessa de que ela viria na próxima quarta-feira, quando ele estaria mais preparado.

Assim que ela se foi, ele matutou um jeito de enganá-la. Rapou a cabeça, esperando, dessa forma, não ser reconhecido pela comadre. Ainda, alertou a sua mulher para que, quando a comadre chegasse, dissesse-lhe que ele havia viajado e só voltaria na próxima quarta.

A Morte veio na data marcada, e a mulher fez conforme o marido lhe recomendara. A comadre então alertou a comadre:

- Eu voltarei quarta que vem. Mas aviso desde já: não dou viagem perdida.

No dia marcado, o homem, com a cabeça rapada, meteu-se no meio de uns moleques que brincavam com umas bolinhas de gude. Chegada a comadre, a mulher do espertalhão lhe deu a mesma desculpa. Foi aí que um moleque acertou a bola no careca e gritou bem alto para o homem:

- Matei você. Matei você.

Aquilo deu uma ideia à Morte. E ela disse para a sua comadre:

- Eu lhe disse que não iria dar viagem perdida. Já que o meu compadre não está, vou levar aquele careca. - e passou a foice no coitado. E carregou-o com ela.

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