Literatura do Folclore: O erro do burro - conto

Havia um burro que, quando pastava no campo, mostrava a todos que era um animal muito tranquilo. Aquela sua atitude pacata despertava inveja nas pessoas. Para elas, ele era um animal feliz e que se apresentava sem alguma perturbação. Na hora de trabalhar, ele dava o duro, sem reclamar. Aguentava o peso do carregamento e o chicote dos moleques condutores, dos boiadeiros malvados, ou de algum mau condutor. Na verdade, o burro não fazia nada de cara fechada, era sempre alegre quando enfrentava o serviço.

Nos instantes de folga, que eram compridos até demais, durando dias e semanas, o burro comia a sua comida e bebia a sua água no tanque de pedra. Era um animal gordo e tranquilo. A vida dele era só sossego e paz.

Mas, de repente, quando o burro estava em sua total tranquilidade, surgiu diante dele uma raposa. Ela, desde muito tempo, observava-o naquela boa vida. Pensava consigo: “Mas que coisa? Aquele burro precisa viver mais agitado e sair daquela monotonia de vida”. Para ela, o burro precisava ser como os outros bichos que fazia o maior esforço para sobreviverem. Até que chegou a pensar nisto: “Perto dali existe um grande chiqueiro de galinhas, mas o dono não o deixa aberto”.

Então a raposa partiu para a luta. Foi ao encontro do burro. E começou a conversar com ele, a fim de fazê-lo sentir a necessidade de mudar de vida, para uma vida mais agitada.

- Meu amigo, disse ao burro a raposa, eu conheço a onça pintada. Seria muito bom a gente ir visitá-la. Ela tem vivido muito e a coitada sofre muito na vida. Pois quando eu me sinto angustiada, é para lá que eu vou.

- Mas eu não sofro nada, disse-lhe o burro. - Eu não tenho do que reclamar. Minha saúde é boa e não me queixo de coisa alguma.

- Mas isso não é vida feliz. Eu também, quando me sinto assim feliz, vou bater à porta da amiga onça. Ouço-lhe com atenção os seus conselhos. E assim eu me sinto mais alegre, e o que é de tristeza vai embora.

Enquanto a raposa falava daquele jeito, dentro dela passava o pensamento de que a onça pintada era velha e encarquilhada. Era um bicho mau, só vivia com fome e até tomava as coisas dos outros bichos que tinham a coragem de passar por perto da sua morada. Até que conseguiu enrolar o burro, que lhe disse:

- Pois eu também vou fazer uma visita a onça.

Pois não é que o burro se dirigiu ao lugar onde vivia a onça, que a raposa lhe afirmara que ela era um bicho bom e pacífico. Chegou ele próximo da furna onde a onça morava. Viu a onça cheia daquelas pintas pretas. Ela saiu com um ar de mansidão, se arrastando, com os olhos fuzilando… E, dando salto rápido, conseguiu chegar até bem perto de onde o burro estava.

Só que o burro desconfiou logo daquela arrumação. E tome correria. Danou-se no mundo, a galope, regressando num fôlego só para o seu campo. E ficou ali, pensando consigo: “A onça queria era me botar no papo. E eu quero é que aquela raposa me apareça para eu lhe dar o troco bem merecido”.

Os dias se passaram. Até que, num certo dia, a raposa apareceu e, com muita educação, começou a lhe pedir desculpa. Falou para o burro que ela era uma pobre miserável, que merecia a morte… Lamentou-se tanto que conseguiu dobrar o burro. E o vendo acalmado, disse-lhe:

- Aquela onça, meu amigo, ela fez aquilo porque estava doente. E, quando você apareceu, a coitada estava muito zangada e com bastante fome. Foi por isso que não reconheceu que era você. Mas eu já falei com ela. E ela quer lhe pedir desculpas. Por isso, ela mandou que eu viesse até aqui para lhe dizer que ela está esperando por você para uma boa conversa. Pode ir até lá, quando quiser.

- Pois está bom. Nesse caso, eu irei até lá depois.

E lá se foi o burro outra vez ao encontro da onça. Foi, mas não voltou. Só deu para onça que teve comida para a semana inteira.

E foi assim que a raposa alcançou o que precisava: sem o seu burro, o dono abriu o chiqueiro e deixou as galinhas, as frangas e os capões soltos, invadindo aquele lugar, onde o burro vivera tão bem.

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