Literatura do Folclore: O Grande Pai - conto

Era um inverno terrível. As feras haviam-se recolhido a seus antros. Os homens tinham-se abrigado em suas casas, onde os fogões ardiam confortavelmente. Mas havia uma cabana: a da pobre viúva, em que não ardia o fogo, não havia pão. Os pobres filhos, sete crianças famintas, choravam no escuro, reclamando um pouco de alimento e de calor. A mãe, que não sabia a que meios recorrer para satisfazê-los, ficou doente de desespero. Atacou-a uma febre alta e teve que ir para a cama.

Deus ordenou a seu anjo que fosse buscar a alma da mulher e a  trouxesse ao Paraíso. O anjo chegou à cabana, viu a moribunda e sete crianças, todas chorando ao redor do cadáver da mãe. Não teve coragem de tomar a alma da mulher e voltou sozinho ao palácio celeste.

- Não trouxeste a alma que te recomendei. - admoestou o Criador.

- Perdoe-me a desobediência, Senhor. Mas se eu tivesse contentado, muitas criaturinhas inocentes iriam ficar sem apoio, ao inteiro desamparo.

O Senhor conduziu o anjo à beira do oceano. Mergulhou na água sua espada luminosa e suspendeu-a dois segundos depois. Uma pedrinha havia subido na ponta. O Senhor agarrou a pedrinha, quebrou-a em dois pedaços e mostrou um pequenino verme que estava dentro.

- Este verme, bem o vês, estava sozinho. Vivia no fundo do mar, fechado dentro de uma pedra. E, apesar de tudo, vivia bem. Por que vivia bem o pequenino verme?

- Graças à tua proteção, Pai.

- Exato. Eu sou o Pai de todas as criaturas. Como poderei eu, que penso amorosamente no verme, desinteressar-me dos pequeninos órfãos? Vai, pois, vai buscar a alma da mulher como te ordenei. A pobre já sofreu bastante e merece a alegria eterna que lhe está reservada. 

O anjo voltou à cabana da pobre viúva, tomou a alma da mulher e a levou ao Paraíso.

Fazia frio, um frio terrível. As feras estavam recolhidas em seus covis, os homens não abandonavam as lareiras, onde ardia o fogo confortável. Mas, na cabana, não havia pão nem luz, nem calor. Os meninos choravam, invocando a mãe que fora.

Um riquíssimo comerciante, que se atrasara numa viagem de negócios e passara por ali, ouviu os soluços e os gemidos. Mandou parar o carro, entrou na cabana e viu os sete órfãos, que tinham fome e frio. Confortou-os com palavras afetuosas, fê-los subir no carro e levou-os para a sua mansão espaçosa, quente e iluminada, onde havia em abundância pão alvo e leite. Ali, os sete irmãos órfãos iniciaram uma experiência tranquila, segura, farta. 

Deus, o Grande Pai, não esquece nenhum dos filhos. 

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Literatura do Folclore: Um santo remédio - conto

Num certo dia, dona Formiga disse pra sua filhinha:

- Minha filhinha, você vá até a mata, corte um feixe de lenha, encha um pote com água e, depois, traga pra casa. Faça isso porque hoje eu estou muito ocupada e doente. E por isso é que eu não posso fazer.

A filha lhe respondeu:

- Mamãe, hoje eu também não tou podendo fazer o que a senhora tá me pedindo, porque eu tenho que cortar folha à noite todinha.

- Pois destá, minha filha, que Nossa Senhora vai fazer você, de hoje em diante, cortar folha, dia e noite, noite e dia, sem parar.

Quando dona Formiga terminou de falar isso, ia passando por ali uma cigarra. Ela fez o mesmo pedido para a cigarra. Mas ela respondeu para dona Formiga:

- Oh, dona Formiga, eu não posso não, porque hoje eu vou cantar à noite todinha.

Aí dona Formiga lhe rogou uma praga:

- Pois, sua cigarra, Nossa Senhora vai fazer que você viva sempre cantando, até que você se rebente pelas costas.

Logo que dona Formiga terminou de falar isso, passava uma abelha. Aí ela lhe pediu a mesma coisa. Foi aí que a abelha, num instante, se dirigiu ao mato, cortou o feixe de lenha e trouxe tudo até a casa de dona Formiga. Depois, foi apanhar água, e depois ajudou dona Formiga a fazer o fogo. E, por fim, limpou e arrumou a casa e a mesa dela. E assim, quando a abelha acabou de fazer tudo isso e já estava se preparando para ir embora, dona Formiga disse para ela como agradecimento:

- De hoje diante, minha querida abelha, Nossa Senhora vai fazer que todo o mel que você fabricar daqui pra frente seja sempre doce, seja abençoado e que sirva de um bom remédio pra curar todos os doentes pobres do mundo.

Então, lá no céu, Nossa Senhora ouviu aqueles desejos de dona Formiga. E, na hora, a Mãe de Jesus atendeu todos os pedidos. E é por isso que todas as formigas, desde daquele tempo até hoje, não param de cortar folhas, dia e noite, noite e dia. E que todas as cigarras cantam, cantam e cantam, até se arrebentarem pelas costas. Para terminar esta história, todo mundo também sabe que o mel das abelhas é um santo remédio que cura os pobres do mundo todo, e até os ricos.

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