Um pobre homem andava sozinho por uma estrada de areia e sol quente, pensando na sua vida. Ele ia fazendo a sua longa viagem a pé, levando um saco meio cheio às costas e um cajado a mão. De repente, aproximou-se dele um jovem, pobremente vestido. E lhe pediu licença para prosseguir a viagem com ele.
No decorrer da viagem, o pobre homem ficou muito admirado do jovem. Quando se aproximava de alguma cidade, ou até mesmo à beira da estrada, o seu jovem e desconhecido companheiro não tinha os hábitos que muitos jovens apreciavam. O rapazinho não frequentava os locais onde a maioria dos jovens, gostava de procurar prazeres, como bailes e cabarés. Ficava sempre do lado de fora, à espera do seu amigo companheiro.
E seguiam os dois a viagem, em conversas. Até que, no percurso da caminhada, o jovem descobriu um cadáver, abandonado debaixo de uma árvore. Então, os dois decidiram enterrá-lo dignamente.
Em outra ocasião, já no fim da jornada, os dois sentiram-se surpresos dentro duma floresta, durante a noite. Tudo muito escuro para eles. Até que, enfim, conseguiram perceber uma casa, por causa da luz de fogo que, dentro dela, clareava-a. E os dois se dirigiram até ela.
Chegando lá, os dois imploraram hospitalidade. Era um santo homem. Pois era um padre, já que ele estava vestido numa batina preta. Ele habitava sozinho na casa. Os dois viajantes também observaram que, atrás da casa, havia uma capela, com uma cruz no telhado. E, então, o sacerdote aceitou-os. Até lhes ofereceu seu pão e seu leito.
Na manhã do dia seguinte, após os dois agradeceram ao bondoso homem a acolhida, despediram-se dele. E os viajantes retomaram a estrada, em silêncio.
Lá mais adiante, enquanto os dois andavam lento, o peregrino percebeu, na sacola do jovem, um belo cálice dourado, que o padre deveria usar para celebrar as suas missas.
- Mas, pelo amor de Deus!… Como foi possível, meu jovem - repreendeu veementemente o homem ao seu companheiro - que você teve a coragem de roubar um homem que se mostrou tão bom para nós dois?
O jovem lhe respondeu:
- Meu senhor, eu observei que ele era bastante apegado a este objeto. E, para mim, o cálice era a única coisa que o separava de Deus. E eu vim para levá-lo.
Ao terminar de falar isso, o rosto do jovem começou a brilhar como o sol. Seus cabelos foram ficando mais belos que o arco-íris, e as suas roupas ficaram igual a um manto de estrelas. E, diante do seu companheiro, o jovem estendeu duas asas tão refulgentes de luz, que doeram nos olhos do homem. E, em seguida, o homem avistou o companheiro de viagem levantar voo para o Céu.
O homem, surpreso até demais, continuou a sua longa viagem, só pensando, o tempo todo, no que ocorrera com ele.