Existiu noutros tempos um homem chamado Kale Kula. Tratava-se de um sujeito muito mau, que cometera inúmeros crimes nefandos, durante a vida. Quando lhe soou a hora da morte, sua mulher, pegando a Bíblia, pôs-se a orar por ele.
- Não, disse o homem, hoje é o dia das Crianças Inocentes. Não vale a pena você ler a Bíblia. Em vez disso, vá para a cozinha fazer uns bolinhos. Morrerei ainda hoje e quero que ponha, no meu caixão, um bom número de bolinhos.
Lá rumou a mulher para a cozinha. E preparou os bolinhos pedidos. Quando voltou, o marido estava morto.
Posto Kale Kula no caixão, colocaram-lhe, ao lado dele, os bolinhos.
Kale Kula, chegando ao paraíso com os seus bolinhos, bateu à porta. Acudiu são Pedro, que lhe disse:
- Aqui não é o seu lugar, meu caro. Não se esqueça dos crimes que você cometera na terra.
- Sim, o senhor tem razão. Mas eu morri no dia das Crianças Inocentes, retrucou Kale Kula. - E, por conseguinte, acho que, ao menos, eu posso dar uma espiadinha aí dentro.
São Pedro, não podendo recusar-lhe, abriu um pouquinho a porta. Então, Kale Kula gritou:
- Venham, Crianças Inocentes, venham a mim, que lhe darei bolinhos.
As crianças, que nunca recebiam bolinhos no paraíso, acudiram, correndo, de maneira que a porta se abriu de vez. E Kale Kula entrou no céu.
São Pedro, indo procurar Nosso Senhor, contou-lhe o que sucedera. E perguntou a Nosso Senhor o que deveria fazer.
- O melhor, respondeu-lhe Nosso Senhor, é você confiar o assunto a um advogado. Em geral, os bons advogados sabem afugentar qualquer pessoa.
Lá se foi são Pedro, à procura de um advogado. Mas, apesar de procurar muito, não consegui encontrar o homem que Nosso Senhor lhe recomendara. Assim, voltou a Nosso Senhor e lhe explicou que, em todo o paraíso, não existia um único advogado.
E, assim, Kale Kula ficou no paraíso.