Literatura do Folclore: O jabuti e a anta - conto

Dizem que o jabuti é gente boa. Ele não é gente má. Um dia, ele estava em baixo do taberebá, juntando a comida, quando veio uma anta do mato. Chegando perto, a anta lhe disse:

- Vá embora, jabuti.

- Eu daqui não me retiro, respondeu-lhe o jabuti, porque eu estou em baixo da minha árvore de fruta.

- Vá logo embora, jabuti, senão eu piso você, seu coco velho.

- Pise, pise, se for macho.

A anta deu um passo para frente e pisou no casco do jabuti, enterrando-o na terra. E, sem dar mais importância ao jabuti, foi-se embora. Mas, naquele instante, o jabuti disse para consigo mesmo:  “Deixe estar, sua anta. Quando vier o tempo das chuvas, eu poderei sair daqui e, logo que eu sair, eu irei ao seu encalço, até encontrá-lo. E, então, eu lhe darei o troco, por me ter enterrado.

Aí, o tempo foi passando. E o coitado do jabuti enterrado. Até que começou a chover. Dentro de pouco tempo, o jabuti pôde se arrancar do buraco, onde fora enterrado.

Saiu, então, e foi atrás da anta. E caminhou durante muito tempo, sem encontrar nada que lhe indicasse o caminho que deveria seguir. Até que, numa tarde, encontrou o rasto da anta. E o jabuti perguntou ao rasto:

- Há quanto tempo, rasto, o seu senhor deixou você?

O rasto lhe respondeu:

- Foi há muito tempo que a anta me deixou aqui.

O jabuti saiu e continuou a andar. Uma lua mais tarde, encontrou outro rasto de anta. E perguntou-lhe:

- Rasto, o seu senhor está muito longe?

O rasto lhe respondeu:

- Para encontrar meu senhor, jabuti, você vai ter que andar mais ainda dois dias. E, então, o encontrará.

- Eu já estou cansado de tanto procurar o seu senhor. - disse-lhe o jabuti. - Mas será que a anta não foi embora de uma vez?

- Por que você tem tanta pressa de encontrá-la?

- Para nada, respondeu-lhe o jabuti. Eu só quero conversar com ela.

Então, o rasto lhe disse:

- Bem, vá ao rio Pequeno. E, lá, encontrará meu pai grande.

- Pois está bem, replicou-lhe o jabuti. - E eu já vou indo.

O jabuti saiu dali. Andou durante algum tempo, até chegar ao rio Pequeno. Debruçou-se na margem e perguntou ao rio:

- Rio, onde está o seu senhor?

- Não sei, respondeu-lhe o rio.

- Por que me responde desse modo? - perguntou-lhe o jabuti.

- Respondo assim porque sei o que meu pai fez com você.

- Pois está bem. Pode deixar, que eu vou encontrar seu pai. E, agora, já vou indo. Quando você me vir outra vez, já estarei com o cadáver do seu pai.

- Não bula com meu pai, retrucou-lhe o rio. - Deixe-o dormir sossegado.

- Agora sim. Pois agora é que eu vou mesmo alegre.

- Olhe, jabuti, alertou-lhe o rio, você está querendo é ser enterrado de novo.

- Não estou no mundo para ser pedra, debochou do rio o jabuti. - E, agora, eu vou ver se o seu pai é mais valente do que eu. Adeus, rio.

O jabuti saiu andando. Mais adiante encontrou a anta adormecida. Chegou perto dela e falou-lhe:

- Então, encontrei ou não encontrei você, sua anta? Agora é que você se vai ver comigo. Dizem que eu sou macho mesmo.

O jabuti deu um pulo só e agarrou-se aos testículos da anta. E lhe disse:

- Dizem que o fogo devora tudo. (Isso é uma frase que corresponde, entre os indígenas, à frase popular: Que leve o diabo tudo)

- Pelo bom Tupã, jabuti, largue-me, largue-me.

- Agora é assim, não é? Pois não largo nada. Eu quero é ver agora a sua valentia toda.

- Está bem. Pois agora eu vou correr. - disse-lhe a anta.

E saiu correndo, desesperadamente, pela margem do rio. Correu durante dois dias. E morreu. Mas, quando viu que a anta caiu morta, o jabuti desgrudou-se dela e lhe disse:

- Então, matei ou não matei você, sua anta? Agora, eu vou é procurar meus parentes, para comerem você. 

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