Há muito tempo, numa fechada floresta de um castelo, perto de uma cidadezinha, um pobre lenhador trabalhava duramente. Mas ele só tinha um sonho. E, quando ele trabalhava a sós, falava em alta voz, porque sabia que ninguém o ouvia:
- Como era tão bom que eu ficasse rico sem trabalhar. Ah, se eu, de repente, tivesse sorte, e eu achasse um tesouro. Nunca mais eu queria saber de trabalhar.
O diabo, que andava por ali perto, pegou a conversa do lenhador no ar. E resolveu aprontar uma das suas. E foi logo quando os últimos raios de sol desapareceram por trás da colina. O diabo só esperou o lenhador parar seu serviço e pegasse o seu caminho de volta para casa.
Foi assim. O demônio, momentos antes, havia montado uma arapuca. E o lenhador, quando vinha voltando para casa, percebeu, entre as ruínas do castelo, uma curiosa pilha de materiais transparentes e desconhecidos. Parecia, então, com asas de besouros, ou insetos que havia em grande quantidade naquele bosque.
O lenhador achou estranho aquilo tudo. Mas ele estava certo de que ninguém acreditaria se ele contasse ter achado aquilo. De fato, ele pensou, os besouros não se reúnem nesse tão grande número, para morrerem juntos. Então, ele apanhou de mãos cheias aquela estranha matéria e a colocou delicadamente na sua bolsa. Só que, quando ele começou a se afastar daquelas ruínas, a matéria começou a pesar cada vez mais. E, por sua vez, o cansaço chegou nele. Já quase não conseguia caminhar, devido àquele peso todo. Até que não conseguiu mais andar.
Agoniou-se o lenhador para seguir viagem de volta para casa e para não deixar de lado aquele peso todo. Mas, já perto do fosso da antiga muralha, ele jogou todo o conteúdo que havia dentro de sua bolsa. Foi aí que, nesse instante, em lugar de asas de besouro, caíram belas moedas de ouro, que se sumiram entre as pedras e as fendas do fosso.
Os olhos do lenhador se esbugalharam ao ver toda aquela descoberta. Ficou fascinado com tanto ouro diante de si. Seu pensamento revirou no cérebro e ele só ouvia estas palavras: “Ouro. Ouro. Você está rico, riquíssimo, sem trabalhar e sem precisar de trabalhar mais”.
O lenhador, muito aflito, tentou de tudo o que podia a fim de recuperar as moedas de ouro. Desesperado, somente com as mãos, remexeu a terra, levantou as pedras, arrancou o capim. Mas tudo foi em vão. As moedas se escondiam entre as ruínas do castelo.
Então, ele marcou na memória aquela pilha esquisita ao lado do caminho. E seguiu seu caminho de volta para casa. Cada passo que dava, dizia para si mesmo: “Estou rico. Rico para sempre. Moedas de ouro. Muitas moedas, muito ouro…”.
No outro dia, o lenhador voltou ao lugar do dia anterior, para procurar as asas de besouro. Mas não havia ficado mais nada. Tudo havia desaparecido. Mas ele não quis acreditar. O sonho dele era mais forte do que tudo. Começou a procurar, procurar, procurar…
Segundo o povo lá da redondeza ainda comenta, quando a noite chega e escurece as ruínas do castelo, é visto uma figura estranha a remexer o fosso da velha praça forte. Eles se espantam e fogem da assombração. Mas depois ficam sabendo que a visagem é daquele lenhador que sonhava, de olhos abertos, em um dia ficar rico, sem trabalhar. E, por isso, seu castigo é ficar, até hoje, escavando as ruínas do castelo, à procura do seu cobiçado tesouro.