Um macaco queria fazer uma vez um aluá, mas não tinha dinheiro. Ele, então, foi à casa do amigo galo e lhe pediu para ele lhe vender meia mão de milho. Ainda, ajustou que pagaria, em tal dia e a tal hora, o milho ao galo. Acabada a compra do milho, despediu-se do galo e foi à casa da amiga raposa. E lá pediu para ela lhe vender a mesma quantidade de milho, marcando o pagamento como havia feito ao galo, porém meia hora depois.
Da casa da raposa, o macaco se dirigiu para a morada do amigo cachorro. E fez a mesma compra de milho, marcando para o pagamento para o mesmo dia designado para o galo e para a raposa, porém com com a tal da meia hora depois.
Ainda não se achando satisfeito, foi à casa da onça, a qual por sua vez também lhe vendeu o milho fiado, tendo o macaco dito antes de sair que ela fosse buscar o dinheiro no mesmo dia em que marcou para o galo, a raposa, o cachorro, porém advertindo a meia hora depois.
Depois de tudo isso, saiu o macaco muito satisfeito e foi pra casa. Lá em sua casa, ele fez uma grande quantidade de aluá e guardou-o em um pote. Fez também de uns jiraus uma cama muito alta e deitou-se nela, amarrando a cabeça com um pano, fingindo estar doente.
No dia do pagamento, bateu-lhe o galo na porta. E, quando entrou, encontrou o macaco gemendo muito e dizendo que estava muito doente. Logo que o amigo galo descansou, mandou o macaco um menino servi-lo o aluá. E o amigo galo gostou muito da bebida.
Nisso, bateu à porta a amiga raposa. O galo ficou muito assustado e com medo. Então o macaco lhe disse:
- Não tem nada não, compadre. Você se esconda aí debaixo da cama.
O galo foi logo se esconder. Aí entrou a raposa. O macaco, gemendo muito, também lhe falou que estava muito doente. Depois da raposa descansar, o macaco lhe ofereceu-lhe o aluá. Ela se serviu e respondeu ao macaco que o aluá estava muito bom. O macaco, então, disse para a raposa:
- Assim achou também o compadre galo.
Aí disse a raposa:
- Como é que é? Ele andou por aqui?
Respondeu-lhe o macaco:
- Não, quer dizer, há muito que ele já foi. - e apontou para debaixo da cama, mostrando o galo.
Travou-se uma grande luta da raposa com o galo, sendo esse comido por ela. Enquanto o macaco via o barulho dos dois, gritava:
- Ai, ai, ai, minha gente. Não me acabem de matar.
Nisso bateu à porta o amigo o cachorro. Repetiu-se a mesma coisa. E acabou o cachorro comendo a raposa. Nessa ocasião, entrou a amiga onça, que também se serviu do aluá e que, depois sabendo que o cachorro estava debaixo da cama, avançou para ele e o devorou.
Acabada a cena, a onça foi ajustar contas com o macaco, que se negou a lhe pagar, alegando que ela já lhe tinha bebido o aluá e que, além disso, estava com três animais na barriga.
A onça ficou muito furiosa e quis avançar para o macaco. Mas ele deu um pulo e se trepou a uma árvore. A onça, vendo que não pegava o macaco, foi embora, jurando se vingar dele.
Para fazer a vingança acontecer, a onça preveniu todas as onças. E juntou todas elas perto de uma fonte, dizendo que não deixassem o macaco ir ali beber água.
O macaco, já quase morto de sede, e não podendo ir à fonte beber água, teve um plano: atirou-se sobre uma cabaça que um carreiro trazia em um carro de boi. Só que a cabaça estava cheinha de mel.
O macaco não se desanimou. Lambuzou-se todo de mel. Adiante, onde tinha muitas folhas secas, esfregou-se nela todinho, ficando completamente transformado. Assim, dirigiu-se para a fonte, passando por todas as onças que o saudaram desse modo:
- Adeus, amiga folhagem. - Mas o macaco nem respondeu para as onças.
Chegando à fonte, o macaco bebeu água que se fartou. Depois, sacudiu todas as folhas que tinha no corpo e passou na carreira pelas onças, gritando:
- Piticau, piticau…
A onça, ainda mais furiosa com a astúcia do macaco, abriu um grande buraco no lugar por onde ele sempre costumava passar. Ela entrou para o tal buraco e mandou as outras cobri-la de terra, deixando apenas os olhos e os grandes dentes de fora. Mas o macaco desconfiou da história e pegou uma grande pedra e atirou com ela em cima dos dentes da onça dizendo:
- Nunca vi chão ter dentes.
A onça morreu, e o macaco continuou a fazer as suas artes e as suas estripulias.