Havia uma senhora de engenho casada e sem filhos. Adoecendo o marido e morrendo, ficou em lugar dele um preto africano, chamado Pai José. Assim que Pai José ouviu dizer que ia governar o engenho, ficou muito orgulhoso.
Logo que foi distribuir o serviço com os outros negros, passou ordem a eles que, de ora em diante, não o tratassem mais por Pai José, e sim Sinhô Moço Cazuza.
Os negros lhe obedeceram. E, quando o viam, diziam: “A bença, Sinhô Moço Cazuza.” O negro, muito concha, respondia: “Bênção de Deus.”
Não ficou só aí o orgulho do negro. Quando chegou à casa, disse para a senhora: “Meu sinhá, quando Sinhô Moço Cazuza chegava em casa cansado, meu sinhá não mandava logo botar banho para ele? Pois eu também quer.” A senhora, coitada, não teve outro remédio senão mandar botar banho para Pai José.
Não satisfeito ainda, disse o negro: “Meu sinhá, não mandava mulatinha esfregar costa de meu sinhô? Pois eu também quer.” A senhora mandou a mulatinha esfregar as costas de Pai José. Este ainda continuou: “E meu sinhá não dava camisa gomada pra meu sinhô vestir? Pai José também quer.” A pobre mulher foi buscar uma camisa engomada, deu a Pai José para vestir. E, vendo que devia acabar com as pacholices daquele negro, falou com dois criados, muniu-se de dois bons chicotes e mandou-os esconderem-se no quarto. Esperou que o negro pedisse mais alguma coisa. E não tardou que ele dissesse: “Meu sinhá, quando meu sinhô acabava de tomar banho e de vestir a camisa grosmada, ia para o quarto pra meu sinhá catar piolho nele? Pai José também quer.”
A moça não teve dúvida. Mandou-o entrar para o quarto e deu ordem aos criados que empurrassem o chicote.
Se ela bem ordenou, melhor executaram os criados. Pai José apanhou tanto que escapou de morrer.
No outro dia, bem cedo, o negro foi para a roça ainda muito magoado das pancadas. E, quando os negros o saudaram: “A bença, Sinhô Moço Cazuza”, ele muito zangado respondeu: “Cazuza, não, eu sou Pai José.” E deu ordem para o tratarem pelo seu próprio nome. Os negros muito admirados ficaram sem saber a causa daquela mudança.
Nunca mais Pai José pediu banho, nem camisa engomada, nem à senhora para catar piolhos.