Literatura do Folclore: O pássaro sonoro - conto

Uma vez, havia um homem muito rico, que tinha um filho meio bobo. Já que o rapaz mostrava pouca aptidão para a vida, o pai dele, então, mandou-o educar. Mas tudo em vão. Depois, o pai, para ver se sempre o melhorava, enviou-o pelo mundo, para correr terras, a fim de ele aprender as coisas.

O moço partiu, munido de bastante dinheiro. Depois de viajar algum tempo, o moço chegou a uma cidade, onde estava havendo um leilão de um pássaro. E já estava muito crescida a quantia, para que o pássaro fosse arrematado. Aí, o rapaz lançou uma quantia ainda maior. E ele terminou mais arrematando o pássaro porque, quando ele perguntou a grande vantagem e habilidade daquele pássaro, disseram-lhe que o pássaro era um grande cantador. E que, quando ele cantava, todos os que o ouviam pegavam no sono imediatamente.

Seguiu o rapaz com o seu pássaro. Chegando adiante, encontrou outro leilão, já noutra terra, onde se estava leiloando um besouro, que já o povo ia lhe dando muito dinheiro. O moço chegou a um dos do leilão e perguntou:

- Mas qual é a vantagem desse besouro?

- Hum, a vantagem desse besouro é muito grande. É que ele faz tudo o que lhe manda fazer, e sem ser visto. E é capaz de arrombar uma porta.

O moço arrematou o besouro e seguiu. Chegando já noutro país, viu outro leilão, onde estava para ser arrematado um rato. O moço perguntou também aí que vantagem tinha aquele rato. Ao que lhe responderam que era a de fazer tudo o que se mandava. E ele era até capaz de arrombar dez paredes. O  rapaz arrematou e seguiu.

Chegando adiante, foi ter a um reino. E, passando em frente de um palácio, onde estava uma princesa, viu muita gente na rua a fazer caretas e trejeitos de toda qualidade. Então, ele perguntou o que vinha a ser aquilo. Responderam-lhe que aquele era o palácio do rei, e aquela era a princesa real, a qual, desde menina, nunca tinha rido de nada. Por isso, o rei tinha dito que aquele homem que fizesse a sua filha rir se casaria com ela. E era por isso que estava ali todo aquele povo, a fazer gaiatices, a fim de fazer a princesa rir. E, até naquele instante, ninguém a tinha feito rir.

Depois que isso ouviu, o moço, sem se importar com aquela gente, aproximou-se de uma das árvores, que havia defronte do palácio, e apeou de seu cavalo, e dependurou a gaiola de seu pássaro num galho de uma das árvores. Feito isso, ele foi descansar. E disse para o rato:

- Agora, mestre rato, vá buscar capim.

O rato partiu logo para fazer a sua obrigação. Mas, quando a princesa viu aquele besouro, dando capim para o cavalo, desandou-se numa gostosa gargalhada. Aí ficaram todos maravilhados. E um foi o primeiro a dizer:

- Quem fez a princesa rir fui eu.

Outro protestou aos gritos:

- Não, foi não. Quem fez fui eu.

O rei, então, se dirigiu a sua filha e lhe perguntou quem é que a tinha feito dar aquela gargalhada. Ela, então, disse-lhe que tinha sido aquele homem que estava ali debaixo da árvore, com uma gaiola e uns outros animais. Imediatamente, o rei mandou chamar à sua presença o tal viajante. E lhe comunicou que ele tinha de se casar com a princesa.

O rapaz ficou muito espantado, porque não esperava por aquilo. Mas, como palavra de rei não volta atrás, ele teve de se casar com a princesa.

Na noite do casamento, ele se mostrou muito acanhado. Mas a princesa, desconfiando de que o rapaz fazia pouco caso dela, no dia seguinte se queixou ao pai, dizendo-lhe que ela tinha se enganado, e não era aquele homem que a tinha feito rir, e sim um outro. Anulou-se, imediatamente, o casamento com o rapaz, e se fez com um outro.

Quando, porém, foi de noite, o nosso moço, que tinha voltado para debaixo de sua árvore, procurou calcular a hora em que os noivos deveriam ir para o quarto. E disse para o pássaro:

- Canta Sonoro. Canta.

O pássaro abriu o bico, e a princesa ferrou logo no sono. E também o noivo, o rei, os guardas do palácio e todos os que passavam.

Depois disso, disse o moço:

- Agora, besouro, vá ao quarto dos noivos e desarrume tudo o que estiver por lá. Rasgue as roupas deles e faça um desarrumação dos diabos. O besouro, se bem lhe tinha recomendado o seu amo, ainda melhor o fez. Desarrumou tudo, que foi uma lástima só.

No dia seguinte, a moça acordou. E, vendo aquela desordem dentro do quarto, ficou desesperada. E foi se queixar ao pai, pedindo-lhe para desmanchar o seu casamento.

O rei ficou aborrecido com aquilo. E lhe disse que tivesse paciência e que esperasse mais alguns dias, até ver o que foi que acontecera realmente.

Mas, na noite seguinte, o Sonoro cantou de novo. E tudo adormeceu. Foi então o rato o encarregado de ir escangalhar o quarto dos noivos. E, se o besouro fez bem, o rato fez ainda melhor.

No dia seguinte, a princesa amanheceu comendo brasas, e o noivo, coitado, tão desconfiado. Aí, não houve mais o que fazer. Tiveram, então, de chamar o moço, que era o verdadeiro marido da princesa.  E, assim, ficaram casados os dois, ficando o moço mais desembaraçado, e não tendo mais do que se queixar a princesa. 

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